Ao tentar isolar Lula, Rodrigo Maia trabalha por um candidato do Centrão, não do centro. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 6 de fevereiro de 2020 às 7:27
Rodrigo Maia na Globonews (05/02/2020)

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articula um candidato do Centrão — com tudo o que isso representa — para disputar as eleições em 2022.

“Eu acho melhor nome do centro é a unificação do centro”, disse.

“Esse é o melhor nome. Se ninguém tiver capacidade de unificar o centro, significa que o centro estará fora do segundo turno”, acrescentou.

“Isso serve para o Doria, para o Luciano Huck, para o Ciro Gomes, serve para todos que estão nesse campo aqui de centro-esquerda até centro-direita, no meu ponto de vista”, falou ainda.

“Se não unificar isso aqui, vai dar certamente Bolsonaro de um lado e o candidato do Lula do outro”, disse ele, na Globonews.

Maia está querendo construir uma candidatura parecida com o que foi Michel Temer, o grande beneficiário do golpe de 2016.

Não vai conseguir, porque candidaturas assim não nascem do voto popular, não empolgam, não têm base política, não representam nada, apenas o interesse de corporações.

Eles podem até ter Huck como candidato a presidente e Ciro como vice. Seria o dream team do Centrão. Mesmo assim, não iria para o segundo turno.

Além disso, há um problema. É que, como toda organização que viola a lei — no caso, a Constituição —, há um momento em que a disputa pela liderança se torna uma briga de morte.

Ou a Constituição não foi violada para empoderar Temer? Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe.

Doria abriria mão de seu projeto ambicioso para apoiar Luciano Huck? Ou Huck aceitaria ser candidato a vice?

Ciro Gomes também deixaria de ser candidato?

Muito difícil.

O mais provável é que o Centrão de Rodrigo Maia viabilize a candidatura dele, juntamente com a de Ciro, com este na cabeça de chapa.

O esboço já será feito este ano, com a aliança dos dois em cidades do Nordeste.

Em 2022, terá um desempenho eleitoral maior do que o de Henrique Meirelles, o último que se aventurou por esse caminho.

Mas insuficiente para chegar ao segundo turno.

Rodrigo Maia é quadro da direita brasileira, à qual entregou as aposentadorias dos brasileiros mais pobres.

Continuará servindo de escada para Jair Bolsonaro, o plano B da elite voraz.

O projeto de Rodrigo Maia tem um único objetivo: derrotar uma candidatura que defenda o verdadeiro interesse nacional, por óbvio com  inclusão dos mais pobres.

Um projeto em que o Brasil como um todo ganha. Mas as corporações querem tudo para elas.

O que ele pretende é isolar Lula e esse projeto. Não vai conseguir. Mas ajudará Bolsonaro na tentativa de se reeleger.

É a natureza do Centrão, desde a Constituinte, entre 1987 e 1988: garantir que os muito ricos continuem mais ricos ainda. E os pobres, mais pobres ainda.

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