Casos de assédio na empresa Plataforma Internacional, criada pelo coach e ex-candidato à presidência Pablo Marçal, vieram à tona após a trágica morte de Bruno da Silva Teixeira, de 26 anos, durante uma maratona de rua no Alphaville (SP). A Polícia Civil investiga as circunstâncias da morte.
Clara Serbim, amiga da vítima e que também trabalhou no local, revelou detalhes sobre a rotina de assédio moral no local.
Segundo Clara, Marçal exercia pressão constante sobre os funcionários para que se exercitassem diariamente. Aqueles que não cumprissem essa exigência eram excluídos ou até mesmo demitidos.
“Havia uma cultura na empresa que exigia que todos os funcionários corressem 5 km por dia. Não era solicitado pela companhia nenhum exame médico ou de rotina. Além disso, a holding exigia que seus empregados lessem livros e assistissem às palestras de Pablo Marçal”, afirmou durante entrevista à reportagem de “O Tempo”.
Clara ainda disse que Bruno era “um cara incrível e um grande amigo”, ela afirmou que a vítima queria sair da empresa de Marçal. “Bruno era uma pessoa extremamente doce, um cara incrível e um grande amigo. Ele me ajudava muito no trabalho, e eu também o ajudava. Eu era a única pessoa que sabia que ele queria sair da empresa”, disse.
“Tem sido difícil lidar com a morte dele. Bruno tinha o sonho de lançar um treinamento para ajudar jovens a se tornarem independentes financeiramente. Ele queria se casar e formar uma família. É muito triste que sua jornada tenha sido interrompida”, acrescentou.
Clara também criticou o coach. Segundo a amiga de Bruno, Marçal afirmava que uma pessoa pode controlar tudo com a mente, incluindo doenças. “Ele [Pablo Marçal] diz que não fica doente por causa disso. Até que ponto as pessoas vão chegar, talvez negligenciando um sinal de dor? Quantas pessoas precisarão morrer?”, questionou.
No último dia 5, Bruno, que era prestador de serviços da XGrow, empresa criada por Marçal e liderada por Marcos Paulo de Oliveira, participou de um desafio de corrida de 21 km proposto de última hora. No entanto, a distância foi dobrada para 42 km sem o conhecimento dos participantes.
A vítima conseguiu percorrer cerca de 15 km, mas sofreu uma parada cardíaca e foi levado até o Hospital Albert Einstein, onde não resistiu e morreu.
O irmão mais velho de Bruno, Luciano Teixeira, de 47 anos, afirmou que Marçal não ajudou no custeio hospitalar do caçula. “Em questão de 30 segundos deram a notícia da morte. Eu fui até Alphaville e fiz o reconhecimento do corpo, tudo o que precisava ser feito. Toda despesa que teve com translado, enterro, foi tudo por parte da família. Não teve nenhuma ajuda. Nem uma coroa de flores mandaram para o meu irmão”, disse.
Ele ainda informou que Pablo Marçal não entrou em contato com a família após a tragédia. Luciano afirmou que o irmão não tinha doenças pré-existentes, e que Bruno era acostumado a fazer corridas curtas. “O Bruno corria 4 km, 5 km, coisa pequena, mas isso foi muita coisa para ele. Ele fazia academia. E apresentava laudo médico para isso. Tinha todos os exames em dia para isso”, garantiu.
Uma fonte, que não quis se identificar, também acusou Pablo Marçal de tratamento misógino com as mulheres que trabalharam com ele. “Pablo já falou várias vezes, inclusive em palestras, que se sentir atração por uma mulher, ele pode demiti-la. Isso para mim não faz sentido. Ele também disse que não entra no carro com uma mulher sozinha ‘se não a come’. É um ambiente extremamente machista”, afirmou.
Em nota, a assessoria de imprensa do coach disse que “não se tratava de uma maratona e sim de um treino normal, como aquele que muitas pessoas fazem todos os dias, inclusive no local onde o incidente aconteceu, não havia qualquer estipulação de distância, onde a maioria do grupo correu entre 15 e 20 km nesse fatídico dia”.
Segundo o advogado Tasso Renam Souza Botelho, que representa Marçal, ao perceber que Bruno passava mal, “pessoas que estavam próximas imediatamente iniciaram os primeiros socorros e começaram a ligar para a emergência, onde pelo indício de demora de atendimento foi tomada a decisão de Bruno ser colocado em um carro para ser levado ao hospital Albert Einstein, por estar a menos de 2 km do local do ocorrido”.