Após ter atletas barrados pela imigração, time do Haiti chama amadores e elimina clube dos EUA

Atualizado em 15 de março de 2023 às 22:15
Partida entre Violette A.C. e Austin FC. Foto: Reprodução

Publicado originalmente no “Brasil de Fato”

O futebol às vezes nos brinda com histórias que, por terem dimensões humanas pra lá de improváveis, aquecem a alma até de quem nunca ligou muito para o esporte. Uma dessas histórias aconteceu na última terça (14): um time semi-amador do país mais pobre das Américas eliminou uma das principais equipes da nação mais rica do planeta.

A missão foi ainda mais difícil do que parece: o Violette A.C. do Haiti teve que mudar meio time, encontrar jogadores nascidos no Haiti que estivessem em solo dos EUA (amadores e profissionais) para compor o elenco antes de enfrentar o Austin FC no Texas. Tudo isso porque uma parte significativa do seu elenco, incluindo quatro titulares, foi barrada pela imigração estadunidense. Apenas 12 jogadores puderam entrar no país. O regulamento da Liga dos Campeões da Concacaf, que reúne times das Américas do Norte e Central, não permitiria que o clube jogasse a partida com esse número de atletas, que seria eliminado por W.O.

Mais: enquanto o Austin foi o quarto colocado no campeonato nacional dos EUA, o Violette não disputou o Haitiano porque não houve campeonato no ano passado, culpa da violência no país. O time ficou quase um ano sem disputar um mero jogo oficial.

Ainda assim, foi o time haitiano que se classificou para as quartas de final da Concachampions. A partida de ida das oitavas de final – disputada na vizinha República Dominicana, já que não havia segurança para o jogo acontecer no Haiti – teve ares de milagre, quando o Violette arrancou uma tão incrível quanto improvável vitória por 3×0.

Na volta, jogada na arena texana, os estadunidenses não conseguiram igualar o placar, vencendo por apenas 2×0, insuficientes para a classificação, apesar de tentarem, e muito.

O jogo em si pareceu um massacre. O Austin teve 76% de posse de bola, chutou 35 bolas na meta haitiana e ainda contou com um senhor frangaço do goleiro do Violette no segundo gol. Ainda assim, não deu.

A partida praticamente toda foi jogada no campo de ataque do Austin. Foto: Reprodução

“Há mais no Haiti do que as manchetes dizem. Há muito tempo falo isso, existem muitos talentos no Haiti. Por causa da forma como o país é, no entanto, não somos reconhecidos”, havia declarado o capitão Saba, antes da partida, ao site The Athletic.

“Para nós, esse jogo é maior que o futebol, lutamos por nosso país inteiro”, completou o haitiano, que também trabalha numa loja de ferragens.

O Violette agora enfrentará nas quartas de final o Tauro, do Panamá ou León, do México. Já para o Austin, que saiu de campo de cabeça quente, ensaiando confusão com o adversário, resta o consolo de ter ajudado a construir um épico que já está na história do futebol.

Veja abaixo (com narração em inglês) os melhores momentos do jogo:

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