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Até a velha direita surrou a facção de Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Jair Bolsonaro e Daniel Silveira

Publicado originalmente no Blog do autor:

Por Moisés Mendes

Foi uma sexta-feira que a extrema direita não esquecerá tão cedo. Pode ter sido a sexta que marca o sepultamento de todos os planos megalomaníacos e criminosos de Bolsonaro e de alguns militares, que pretendiam manter o Brasil sob o terror dos blefes de golpes, do incentivo às armas e da formação de milícias.

Daniel Silveira foi o personagem individual massacrado pelos próprios colegas. Mas a figura coletiva derrotada é a do fascismo bolsonarista. Bolsonaro é o perdedor.

Não haverá espaço por um bom tempo para exaltadores da ditadura. Bolsanaro vai se recolher, os militares ficarão mais quietos do que já estão e candidatos a miliciano devem rever seus planos.

O deputado pé-de-chinelo que achou que poderia falar como se fosse um general de quatro estrelas foi o boi de piranha de Bolsonaro, dos filhos dele e dos militares. Mandaram que falassem alto e o homem exagerou.

Na sessão de ontem da Câmara, ao tentar pedir desculpas, o sujeito disse três vezes que agrediu os ministros do Supremo sob forte emoção, porque defendia um general que está em cadeira de rodas.

O general é Eduardo Villas Bôas, o autor da nota de 2018 alertando o Supremo para que não concedesse habeas a Lula. O deputado fascista achava que Villas Bôas, por estar doente, precisava ser defendido por um fortão.

Alguns militares podem até ter imaginado que Silveira seria mesmo um bom defensor de Villas Bôas, depois das reações à revelação de que a tal nota de 2018 resultou de uma conspiração do alto comando do Exército (mesmo que essa história tenha sido desmentida esta semana pelo próprio comandante do Exército).

Silveira queria fazer média com os generais, como se fosse um sabujo. Fracassou menos por ser extremista e mais por ser um ogro sem expressão. Com a decisão de ontem da Câmara, ele viu por enquanto apenas a porta do inferno.

Será processado e deve ser cassado pela Câmara. Outros parceiros, envolvidos nos inquéritos das fake news e dos atos pró-ditadura, podem cair mais adiante, não por deliberação política da Câmara, mas pelos julgamentos do STF.

A extrema direita é obrigada a se recolher para o meio do mato, para tentar rearticular forças e remontar estratégias. Será difícil reagir.

Ontem, o centrão ofereceu uma lição a Bolsonaro. Enquanto a nova direita votava em peso com o fascista, o centrão, que Bolsonaro acredita ter comprado para o que der e vier, deu o seguinte recado: somos venais, nos vendemos, mas não somos imbecis. E votaram pela prisão do parceiro da família.

O que a Câmara fez ontem foi preservar a imunidade, para que possa ser usada quando os deputados de fato precisarem dela. Resumindo: o Congresso pode até proteger Aécio Neves, mas não protege bandidos sem grife sem noção de limites.

Bolsonaro não está sozinho no pesadelo da derrota de sexta-feira. O pesadelo é do genocida, mas compartilhado com muitos militares que carregaram até aqui o blefe do golpe e acabaram produzindo um fascista do porte de Daniel Silveira.

A velha direita golpista da Câmara disse à chinelagem de extrema direita no poder que esse jogo nunca foi para os que chegaram ontem e acham que sabem jogar.

Marcelo Freixo reconheceu em seu discurso o papel de centristas e direitistas, ou o resultado teria sido outro.

Civis e militares adoradores de torturadores e de ditaduras terão dias terríveis pela frente.

Viva Marielle!

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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