Bancário demitido e preso após golpe de 1964 é readmitido depois de 59 anos

Atualizado em 4 de maio de 2023 às 23:54
Osmar Ferreira. Foto: Reprodução

Um idoso de 80 anos foi readmitido em um banco na cidade de Feira de Santana, na Bahia, 59 anos depois de perder o emprego após ser preso pela Ditatura Militar. Osmar Ferreira, que era ligado à juventude do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi demitido sob a “acusação” de ser comunista.

Osmar era um jovem funcionário de uma agência do Banco da Bahia. Com uma metralhadora nas mãos, um sargento do Exército entrou na agência em 8 de abril de 1964, algemou o bancário e o levou para a prisão, onde foi agredido e torturado. Solto 12 dias depois, ele foi demitido do banco.

Ferreira foi recontratado pelo banco Bradesco, que comprou o setor de varejo do antigo banco na década de 1970 e acabou herdando os passivos da empresa. A readmissão ocorreu por meio de uma ordem judicial. A decisão pôs fim a uma batalha judicial que durava 12 anos entre Osmar e o Bradesco.

No dia 26 de abril, Osmar se apresentou para voltar a trabalhar no banco. À Folha de S.Paulo, o idoso disse ter ficado surpreso com a demissão.

“A demissão foi uma surpresa porque eu trabalhava muito e gostava do que fazia. Cortaram pela cabeça uma carreira de sucesso. Eu ia ser muito bem-sucedido no banco”, afirmou.

Osmar ainda era estudante quando começou a trabalhar no banco, aos 17 anos. Aos poucos, ascendeu a hierarquia interna da agência até chegar ao posto de chefe do setor de cobranças. Também foi gerente interino em treinamento para assumir a função em uma nova unidade.

Ao mesmo tempo, mantinha uma militância política fora do trabalho: foi líder estudantil, associou-se ao então clandestino PCB e ajudou a fundar a primeira entidade de classe de bancários de Feira de Santana. A associação virou sindicato em 1963 e Osmar passou a fazer parte da diretoria.

“A dor e o sofrimento permanecem até hoje. As bofetadas, os telefones [fortes tapas nos ouvidos que provocavam surdez temporária], a tortura de um modo geral, inclusive a psicológica, não vão se apagar nunca. Isso vai morrer comigo”, relembrou.

Sem perspectiva e com medo de ser novamente preso, passou a trabalhar como caminhoneiro com o pai e colocou o pé na estrada, ficando na clandestinidade por quatro anos.

Em 1974, Osmar conseguiu entrar na universidade e cursou a faculdade de Direito com o auxílio de um crédito estudantil. Foi advogado por cerca de 40 anos e trocou o interior da Bahia pela capital.

Em 2010, foi reconhecido pela Comissão de Anistia como perseguido político da ditadura militar e recebeu uma indenização de R$ 726 mil, paga na época em parcelas mensais.

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