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Banido no Facebook e Twitter, Daniel Silveira mantém canal ativo no Telegram

Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) no plenário da Câmara Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados

Originalmente publicado em AGÊNCIA PÚBLICA

Por Ethel Rudnitzk e Laura Scofield

O Telegram foi o aplicativo mais baixado do mundo em janeiro – mais que o WhatsApp – e ultrapassou a marca de 500 milhões de usuários. E boa parte desses downloads veio do Brasil. Foram mais de 25 milhões de novas contas entre os dias 9 e 12 de janeiro.

Foi nesse período que o presidente Jair Bolsonaro criou seu canal Telegram – unindo-se ao pequeno grupo de líderes mundiais que têm contas oficiais na rede. Em menos de uma semana, o presidente brasileiro já tinha mais de 350 mil seguidores lá. Na data de publicação desta matéria,  são quase 437 mil. Os seguidores são ativos: em média, os posts do presidente chegam a 183 mil visualizações cada um, de acordo com a ferramenta de métricas Tgstat.

Pelo menos 12 parlamentares da base governista, além de órgãos do Executivo federal, criaram contas na plataforma em janeiro.

Um deles foi Daniel Silveira (PSL-RJ), preso em flagrante em 16 de fevereiro por “atacar” os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e propagar “a adoção de medidas antidemocráticas”, além de defender o AI-5 em vídeo nas redes sociais. O deputado é alvo de duas investigações no STF: uma delas apura a convocação de atos autoritários que defendiam o fechamento do STF e do Congresso no ano passado, e a outra investiga a divulgação de ataques e notícias falsas contra os ministros da corte nas redes sociais.

Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, Silveira teve suas contas banidas no Twitter, Facebook e Instagram, mas seu canal no Telegram continua ativo, com mais de 9 mil seguidores. O vídeo que levou à sua prisão, em que ele ataca ministros do STF e defende o AI-5, foi excluído do YouTube e de outras plataformas, mas segue circulando no Telegram através de outras contas, segundo descobriu a reportagem da Pública.

Em resposta à Pública, a assessoria do deputado responsabilizou o Telegram pela manutenção do vídeo: “Se o vídeo ainda está em circulação no Telegram, quem tem que responder é o Telegram”. A rede não se manifestou diante das tentativas de contato pela reportagem.

Antes da prisão de Silveira e da exclusão do vídeo no Youtube, o conteúdo foi postado no canal de Telegram do blogueiro Allan dos Santos – também investigado pelo STF nos inquéritos das fake news e atos antidemocráticos –, com mais de 111 mil seguidores. Dali, foi encaminhado por outros canais e grupos no Telegram, como o do próprio Silveira no mesmo dia. No grupo de fãs do canal Terça Livre o vídeo continuou sendo compartilhado até 19 de fevereiro – dois dias depois da prisão de Silveira.

O Telegram é a maior rede social ainda ativa de Daniel Silveira – suas contas no Twitter, Facebook e Instagram foram bloqueadas por ordem do STF. Na plataforma, sua assessoria de imprensa continua enviando mensagens diárias de apoio ao deputado e elogios ao governo federal para seus mais de 9,5 mil seguidores. “Tem sido uma excelente plataforma, justamente por ela respeitar a liberdade de opinião”, avalia a assessoria do deputado preso, que informou que continua em contato com os eleitores também por WhatsApp, e-mail, telefone e pelas redes de extrema direita Parler e Patriabook.

Por meio do Telegram, a assessoria divulgou um abaixo-assinado pela liberdade de Silveira. “Precisamos de mais 285 assinaturas. Você pode assinar?”, perguntam ao compartilhar post de outro usuário. No canal de Silveira, o chamado para a assinatura alcançou mais de 13 mil visualizações.

Antes da prisão, circularam também posts desinformativos sobre a pandemia de coronavírus nos canais do deputado. Ele defendeu a utilização do tratamento precoce, sem eficácia contra o coronavírus. Encaminhou publicação do site Estudos Nacionais que tira de contexto fala da ativista Débora Diniz para fazer parecer que ela defendia a pedofilia.

Canal do deputado federal Daniel Silveira compartilhou mensagem que defende tratamento precoce, sem eficácia comprovada, contra o coronavírus

Em resposta à Pública, a assessoria de Silveira indagou: “Desinformação sobre a pandemia? Sério?”. De acordo com eles, as informações que compartilham são embasadas por “médicos e cientistas que não prestam continência ao protocolo global”. Sobre as postagens a respeito da ativista Débora Diniz, afirmaram que “nada foi descontextualizado”.

Os administradores encaminham aos seguidores do deputado mensagens de outros canais  bolsonaristas no Telegram, como do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), de Allan dos Santos ou do influenciador Leandro Ruschel – esse foi identificado pelo STF como parte de “mecanismo de criação e divulgação de fake news” – e conteúdos do site Pleno.News, considerado por especialistas ouvidos pela Pública como um dos que mais disseminam desinformação.

Parlamentares bolsonaristas usaram também seus canais no Telegram para sair em defesa de Silveira. Em mensagem replicada de seu Twitter, Carlos Jordy (PSL-RJ) xinga e chama ministros do STF de ditadores por causa da prisão do deputado. “Não iremos recuar!”

A Pública analisou os canais oficiais no Telegram de órgãos do Executivo, do presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), além de 14 parlamentares, entre senadores e deputados. A análise revelou que órgãos oficiais do atual governo e políticos da base bolsonarista têm buscado no Telegram uma nova forma de comunicação, por vezes para fugir dos mecanismos de moderação de conteúdo de outras redes.

Diario do Centro do Mundo

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