Base coxinha migra de vez para Bolsonaro. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 20 de setembro de 2018 às 9:39
Jair Bolsonaro. Foto: Gabriel Korossy/Câmara dos Deputados

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR LUÍS FELIPE MIGUEL, professor de ciência política na UnB

Embora os números sejam um tanto diferentes, o Datafolha indica as mesmas tendências que o Ibope.

O Bozo pontua de forma preocupante, ultrapassando o que se acreditava ser seu teto. A estratificação da pesquisa mostra que é a base coxinha migrando de vez para ele, aceito agora como última salvação contra o risco de algum tipo de combate à desigualdade social.

Os números apontam com clareza a tendência de um segundo turno entre o Bozo e Haddad. O candidato PT deve crescer ainda mais, já que a transferência de votos de Lula certamente não está completa.

Ciro mantém seu contingente de votos, o que é notável, mas tem pouco espaço para crescer. A Folha força a mão em seu favor na manchete (“Ciro lidera no 2º turno”), mas é difícil que o discurso do “voto útil antecipado” volte a ganhar corpo. Para vingar, teria que estar claramente delineada uma derrota de Haddad para o Bozo no segundo turno, o que não é o caso.

Marina continua em queda livre e Alckmin, patinando em seu único algarismo. A chegada de qualquer um dos dois ao segundo turno seria um fenômeno digno da ressurreição de Lázaro. Mas, se Deus existisse mesmo, dificilmente queimaria seu filme se manifestando com um milagre desses na eleição brasileira.

E, como a fé é livre (e a desrazão também), ontem ainda Meirelles deu entrevista dizendo que ganhará já no primeiro turno.

Como esperado, a chapa Boulos/Guajajara não tem espaço para se firmar, num ambiente de absoluta degradação do debate público – e com o esvaziamento do HGPE dificultando que se encontre uma via para fora da bolha. Nos últimos dias, a campanha ajustou o discurso, sinalizando adequadamente as diferenças com o PT, sem com isso se afastar da unidade na luta contra os retrocessos e o fascismo. Mas a simpatia e a concordância que essa posição encontra em muitos setores progressistas não consegue se traduzir em voto, numa conjuntura marcada sobretudo pelo medo (talvez devesse dizer “pânico”) e com a esquerda na defensiva.