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Base flácida revela um Tarcísio frágil em São Paulo, já chamado de governador biônico

Gilberto Kassab e Tarcísio de Freitas. Foto: Reprodução

A desorganização é a cara da gestão política do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), neste início de mandato.

Inexperiente e sem conhecer o estado de São Paulo – é carioca -, o mandatário montou um time que no linguajar do futebol pode ser comparado a uma “catação”.

Do centro à extrema-direita, o governo é uma colcha de retalhos, com cada parte brigando por mais nacos de poder.

Para garantir um mínimo de governabilidade nesta reta inicial, Tarcísio precisou recorrer a Gilberto Kassab, em quem, segundo apurou o DCM, não confia.

A ele foi dada a secretaria de Governo, que cuida das negociações com deputados e partidos.

Para contrabalançar o poder do presidente nacional do PSD, Tarcísio escolheu um militar de sua confiança, Arthur Lima, para respaldar as promessas de Kassab na Casa Civil.

O balaio de gatos reflete nas demais áreas de primeiro escalão, com secretarias loteadas que pouco ou quase nada formulam.

Exceto o balão de ensaio do programa para reduzir recursos da Educação e governar por meio de medida provisória, além da intenção de aumentar salários e dar benesses às forças policiais, e do furor para entregar a Sabesp, a administração do aliado de Bolsonaro é inexpressiva.

Para piorar, o governador chamou para si a responsabilidade da Cracolândia na capital, um problema aparentemente insolúvel considerados os métodos à base do ‘prendo e arrebento’, para usar uma frase do ditador João Figueiredo, que pretende adotar na região.

A crise é notável no Legislativo, onde nada é debatido, não há projetos para análise e o plenário virou bacia das almas, enquanto pastores obrigam os presentes a assistir pregações religiosas em audiências públicas e comissões temáticas.

“Não acontece nada, todo mundo batendo cabeça”, disse ao DCM um experiênte deputado nesta semana.

Ok, o governo emplacou nomes em 17 das 22 comissões temáticas da Assembléia, com destaque para as presenças de parlanentares da base nas duas principais, Constituição e Justiça, com Thiago Auricchio (PL), e Finanças, com Gilmaci Santos (Republicanos).

Tarcísio, no entanto, a despeito dos 13 milhões de votos que recebeu no 2o turno em 2022, é visto como um lider biônico em face dos compromissos que assumiu serem maiores que o seu poder de barganha e sua capacidade de articulação.

Enquanto Kassab controla as lideranças de centro, o ex-vereador paulistano Gilberto Nascimento, chefe da pasta do Desenvolvimento Social, faz o varejo com lideranças religiosas e de extrema direita.

Falta acomodar um setor importante, capitaneado pelo PSDB – o partido controla um grupo de 12 parlamentares, que formam a Federação com o Cidadania -, e mais deputados insatisfeitos no Podemos, MDB, PSB e até no PL (Thiago Auricchio é um deles).

É aí que a situação complica para o governador.

Se somados aos 26 votos da oposição, esse grupo pode alcançar maioria e, pela primeira vez em 30 anos, atrapalhar a vida do Palácio dos Bandeirantes.

Em tom de piada pelos corredores da Alesp, parlamentares ameaçam criar um “Centrinho” estadual, expressão que designa um grupo de deputados especialistas em transitar no governo oferecendo apoio em troca de cargos.

Nos bastidores, ninguém mais esconde a insatisfação com a paralisia do governo. O líder do PSDB, Vinícius Camarinha, por exemplo.

No PSB, quem pressiona por espaços na máquina é Caio França, filho de Márcio França, ministro de Portos e Aeroportos de Lula. O Podemos dispensa apresentações quando o assunto é o toma lá dá cá, assim como o MDB.

O evidente descompasso terá desdobramentos nas eleições municipais do ano que vem, especialmente na capital, maior reduto eleitoral do país.

Tarcísio já tem oficialmente dois candidatos a prefeito com apoiadores em seu governo: Ricardo Nunes, que vai tentar a reeleição, e Ricardo Salles, que representa os interesses do clã Bolsonaro.

Falta computar os interesses do próprio Kassab e os do PSDB e seus satélites.

No trato pessoal, Tarcísio é descrito como cordial. Não por acaso seu melhor momento em cento e poucos dias de governo foi na crise de São Sebastião, quando as chuvas devastaram praias do litoral norte do Estado.

Ao lado do presidente Lula, mostrou-se solícito e acabou saindo bem na foto. É pouco considerado que seu governo é a grande esperança branca da extrema direita para tentar voltar ao poder central em 2026.

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Jose Cassio

JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo

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