Bin Laden como pai

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 16:49
Bin Laden na juventude

Acabei de ler um épico do mundo contemporâneo, “Os Bin Ladens”. Como escrevi em outro texto, foi lançado no Brasil pela Globolivros. Leia, se estiver interessado em apliar seu grau de compreensão sobre o conflito entre o Ocidente e o Islã.

É fascinante a história da família, a começar pela patriarca Mahomed bin Laden, um iemenita caolho, ignorante e genial que do nada ergueu uma construtora extremamente bem sucedida na Arábia Saudita. Mahomed teve dezenas de mulheres, sempre jovens e bonitas, e com elas mais de 50 filhos, entre os quais bin Laden.  A sharia – lei islâmica – estipulava nos dias de Mahomed que você podia ter até quatro mulheres. Para não ultrapassar o limite, ele estava sempre trocando de mulheres. Escolhia com apuro. Eram reprodutoras de alto potencial. Um amigo da família disse que jamais conheceu um bin Laden feio. A mãe de Osama, Alia, era tida como uma mulher de grande beleza.

Osama seguiu os passos do pai na prole. Ou quase. Em meados dos anos 2000, já tinha mais de 20 filhos.

Mahomed morreu incinerado num acidente de avião quando Osama tinha uns dez anos. O primogênito, Salem, era tão carismático quanto o pai. Gostava de rock e tinha um senso de humor peculiar. Uma vez deixou escapar gases com estrépito na presença do rei saudita. “O que foi isso?”, perguntou o rei. “Peidei. O senhor também faz isso de vez em quando, não é?” Salem, com o qual os negócios da família continuaram a florescer, morreria, como o pai, num acidente de avião. Os bin Ladens eram tradicionalmente loucos por avião.

Osama era então já um jovem incomodado com o que via no mundo árabe e, fora dele, com a influência para ele deletéria dos Estados Unidos. Seu caminho estava traçado. Pegou nas armas contra a ocupação soviética do Afeganistão, nos anos 80. E depois, expulsos os soviéticos, transferiu seu ódio para os americanos.

Acabou virando, como sabemos, um satã para os americanos – e ao mesmo tempo um herói para os árabes. No livro “Os bin Ladens”, o autor diz que mesmo árabes moderados acharam que os Estados Unidos “mereceram” o 11 de Setembro.

Pesquisas recentes mostram que a aprovação a bin Laden era grande no Oriente Médio. No Paquistão, onde ele viveu seus últimos anos, 65% das pessoas eram a seu favor.

Isso explica por que os negócios da família jamais foram prejudicados por causa de Osama.

Me tocou no livro uma coisa: o papel de Osama como pai.

Bin Laden sabia com quem estava lidando. Os americanos iriam matá-lo em algum momento. Ele fez um testamento no qual se desculpava diante dos filhos pelo pouco tempo que pudera dedicar a eles depois que escolhera o caminho da jihad – a guerra santa.

E proibira os filhos de militar na Al-Qaeda. Ele parafraseava um califa que tivera a mesma atitude em relação aos filhos. “Se foi bom, demos nossa parte. Se foi ruim, chega”.

É uma grande frase, em que jorra sabedoria em cada letra.