Bolsolão do lixo: ministro de Bolsonaro usou dinheiro público para comprar caminhão de amiga

Atualizado em 23 de maio de 2022 às 10:24
Bolsolão do lixo

De acordo com reportagem do Estadão publicada nesta segunda-feira (23), o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, destinou R$ 240 mil em emendas parlamentares para a compra de um caminhão de lixo fornecido pela empresa de uma amiga que frequenta o seu gabinete.

Passou pelas mãos de aliados de Nogueira a liberação dos recursos para a aquisição do veículo, que pertence à empresária Carla Morgana Denardin, do Grupo Mônaco Diesel Caminhões, Ônibus e Tratores Ltda. A companhia é comandada por um apadrinhado dele, e a prefeitura que efetuou a compra é de uma correligionária.

Quando se tornou ministro do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), Ciro conseguiu um contrato no valor de R$ 11,9 milhões com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) do Piauí, seu reduto eleitoral.

A emenda do piauiense garantiu a compra de um caminhão compactador de lixo para atender a cidade de Brasileira (PI), que tem apenas 8.364 habitantes. O equipamento é desaconselhado para municípios com menos de 17 mil habitantes devido ao alto custo, segundo especialistas.

Inaldo Guerra, apadrinhado do ministro da Casa Civil, é quem comanda desde abril de 2019 a superintendência da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) no Piauí, responsável por ter feito o pregão. Foi Guerra quem ratificou o resultado da licitação.

Em 2019, o governo distribuiu 85 caminhões de lixo para municípios. Já em 2021, o numero foi de 488. Depois de investigações, foram encontrados indícios de ilegalidade na medida. O esquema ganhou o nome de “Bolsolão do lixo”.

A oposição do presidente tem cobrado explicações sobre o assunto. Neste domingo (22), foram levantadas suspeitas sobre superfaturamento nas compras dos automóveis, onde foi alegado compra para além do necessário.

“E o Bolsolão ataca novamente! De 2019 a 2021 teve mais um item de luxo para o governo Bolsonaro: caminhões de lixo. Com verba federal, estima-se que dos R$ 381 milhões garantidos pelo governo federal, R$ 109 milhões sejam pagamentos inflados”,  declarou a deputada estadual pelo Rio Grande do Sul e ex-candidata a presidente Luciana Genro (PSOL).

Os caminhões foram usados por senadores, deputados e prefeitos durante seus mandatos para atrair a população. Além disso, em outubro do ano passado, o governo adquiriu modelos de caminhão por R$ 391 mil. No entanto, depois de menos de um mês, comprou modelos iguais por R$ 505 mil.

Durante dois meses, uma equipe do Estadão analisou cerca de 1,2 mil documentos referentes à aquisição de veículos com verbas do orçamento federal, incluindo relatórios, planilhas e vídeos.

Em agosto, o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) divulgou uma foto ao lado do caminhão de lixo na cidade de Minador do Negrão (AL). Comprado com recursos de emenda parlamentar do senador, o veículo é um dos maiores disponíveis no mercado, com 15 metros cúbicos.

Barra de São Miguel (AL), cidade governada por Benedito de Lira (Progressistas), pai do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progresssistas), ganhou três caminhões compactadores, do modelo grande, sendo duas em 2020 e uma em 2021.

Já a cidade de Marimbondo, com 13.192 moradores, a 80 km de Barra de São Miguel, não recebeu nenhum veículo.