Bolsonaro dá cargo de “embaixador do turismo” a apresentador acusado de matar boto para forjar denúncia no Fantástico

Atualizado em 2 de agosto de 2019 às 18:04

Jair Bolsonaro nomeou Richard “Selvagem” para o cargo de “Embaixador do Turismo no Brasil”.

Quem fez o lobby foi a deputada do PSL Carla Zambelli, aquela senhora que gasta o mandato no Twitter desfilando sua classe e sua verve atacando “gordas feministas peludas” e o preconceito assassino contra ruivas. 

Eu escrevi sobre o cidadão. Ei-lo:

Seu nome verdadeiro é Richard Rasmussen. Virou uma subcelebridade como “apresentador de natureza” em canal por assinatura.

Bolsonarista, é autor de um vídeo constrangedor “denunciando” Roger Waters por fazer um show político, com um mimimi desgraçadamente teenager para um sujeito de quase 50 anos.

Zambelli quer dar-lhe uma boquinha como “Embaixador do Turismo brasileiro para o mundo”, sabe Deus o que isso significa.

Em 2017, o biólogo foi acusado de pagar pescadores para matar um boto cor de rosa e, dessa forma, obter imagens fortes e chocantes que ilustraram uma reportagem do Fantástico.

Em 2005, o Ibama fechou um criadouro mantido por ele em Carapicuíba, interior de São Paulo, desde 1999.

“A equipe do Ibama autuou o proprietário do local, Richard Rasmussen, em R$ 8.500 por encontrar animais sem a documentação legal necessária”, afirmou a Folha de S.Paulo.

De acordo com o Estadão em 2010, Rasmussen é um “Indiana Jones de Araque”, que “posa de ambientalista” e “tortura animais”.

Rasmussen tem, portanto, as credenciais necessárias para ser mais uma estrela do governo Bolsonaro.

Deu no site Notícias da TV: 

A acusação é do documentário norte-americano A River Below (Um Rio Abaixo, em tradução livre), do diretor Mark Grieco, exibido no fim de abril no conceituado Festival de Cinema de Tribeca, em Nova York.

Inicialmente um projeto que mostraria o trabalho do biólogo marinho Fernando Trujillo na Colômbia, Grieco trouxe sua narrativa para o Brasil ao ver as imagens do Fantástico. Queria ter cenas fortes em seu filme, como as dos golfinhos mortos no Japão mostradas no documentário The Cove (2009), de Louie Psihoyos.

As cenas fortes supostamente forjadas por Rasmussen foram exibidas pelo Fantástico em julho de 2014, em uma reportagem de Sônia Bridi que mostrou como pescadores caçavam o boto rosa e usavam sua carne de isca para pescar piratinga, um peixe carniceiro valioso na região.

Nas imagens que o biológo de 47 anos fez para o dominical, uma fêmea grávida de boto é caçada e, ao ser cortada em pedaços, é possível ver um feto formado, que também é usado como isca. (…)

Pressionado pelas imagens fortes mostradas pela Globo, o governo federal decretou uma moratória que proíbe a pesca de piracatinga durante cinco anos, a fim de proteger o boto rosa, mamífero em extinção usado como isca.

Em entrevista ao Notícias da TV, Rasmussen confirma ter participado da gravação, mas nega que pagou aos pescadores para que matassem o boto. (…)

O documentarista Mark Grieco teve a ideia de fazer um documentário sobre a matança dos botos após ver as imagens feitas por Rasmussen no Fantástico. Ao chegar à Amazônia, foi informado pela população local de que as pessoas no vídeo não eram da comunidade e que teriam sido levadas até lá pelo próprio biólogo _seus rostos foram desfocados nas imagens para que não fossem reconhecidas.

Depois de cerca de seis meses de busca pelos pescadores filmados, Grieco pôde ouvir o outro lado da história: os envolvidos acusam Rasmussen de pagar R$ 100 a cada um para que reproduzissem em frente às suas câmeras as práticas de caça ao boto. Em entrevistas gravadas, dizem ainda que o apresentador afirmou a eles que as imagens não seriam exibidas na TV, que apenas as encaminharia ao governo.

Com essas informações, Grieco procurou o biológo e preparou uma pegadinha para ele: ainda apresentando a ideia de fazer um documentário sobre os botos, fez com que Rasmussen falasse sobre seu trabalho na defesa dos animais.

Assim, na primeira metade do filme, o apresentador é pintado como um herói, alguém que toma as atitudes necessárias para salvar uma espécie ameaçada. Rasmussen chega a desdenhar das pessoas que apenas repetem “Não matem os botos” como um mantra.

“Não é o bastante. Precisamos fazer mais, precisamos de ações. Parem de falar e façam alguma coisa! Eles estão matando nossos botos, estão matando toda a nossa fauna. Matam rinocerontes, gorilas, tubarões. Eles… Nós matamos tudo, estamos destruindo o planeta. E ficamos de conversinha mole? Foda-se!”, desabafa o biólogo, com passagens por Record, SBT e NatGeo. (…)

Na segunda metade do documentário, Grieco confronta Rasmussen sobre o suposto pagamento aos pescadores e sobre as imagens que teriam sido forjadas. Afirma o cineasta que, com a proibição da pesca, famílias inteiras perderam sua única fonte de renda e, por isso, o apresentador estaria jurado de morte. Nesse momento, o herói vira vilão: ele fica irritado e xinga a equipe do documentário. (…)