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Bolsonaro divide o governo como quem parte um bolo: comunicação para Carlos, Itamaraty para Eduardo e MPF para Flávio. Por Joaquim de Carvalho

Bolsonaro e os filhos

Confirmada a notícia de que Jair Bolsonaro escolheu Antônio Carlos Simões Soares para a Procuradoria Geral da República, vai-se mais um pedaço do republicanismo (alguns entendem que suicida) implantado pelo PT.

Desde 2003, primeiro ano do governo Lula, o procurador geral é escolhido a partir da lista tríplice apresentada pela Associação Nacional dos Procuradores da República. Lula e Dilma sempre escolheram o primeiro nome da lista. Michel Temer escolheu o segundo — Raquel Dodge.

O problema mais grave, no entanto, não é indicar um nome fora da lista, como seria o caso de Antônio Carlos Simões Soares. É colocar para chefiar o Ministério Público Federal alguém indicado pelo senador Flávio Bolsonaro e pelo advogado dele, Frederick Wassef.

Flávio é investigado pela suspeita de desvio de dinheiro público no caso das movimentações milionárias atípicas na sua conta bancária e na de Fabrício Queiroz. O senador, claro, nega que seja o padrinho da indicação de Antônio Carlos Simões Soares, mas difícil acreditar que o procurador esteja sendo cotado para o cargo por méritos próprios.

Até porque não há méritos conhecidos na carreira de Simões Soares. Sabe-se que ele é do Rio de Janeiro, atuou na área eleitoral e mais nada. Teve também um problema funcional, coisa pequena. Recebeu em dobro R$ 74 mil de uma licença prêmio, e não quis devolver. Foi até o Supremo Tribunal Federal para ficar com o dinheiro, sob o argumento de que agiu de boa-fé, conforme contou a jornalista Bela Megale, em O Globo. Não conseguiu.

O vazamento dessa informação indica que Simões Soares está mesmo no páreo. Alguém do Ministério Público Federal passou para a jornalista, talvez a mesma fonte que alimentou o Painel da Folha com um argumento terrorista: com um desconhecido como Simões Soares procurador geral, o caos será pouco para descrever o que acontecerá no Ministério Público Federal.

Simões Soares está sendo queimado na largada, não que isso signifique redução de suas chances. Bolsonaro já deu demonstração de que não se importa com esse tipo de repercussão.

Fosse assim, não haveria Ernesto Araújo no Itamaraty, Abraham Weintraub no Ministério da Educação, Ricardo Salles no Meio Ambiente e Damares Alves no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

O importante para ele são os interesses da família.

Entregou a Comunicação para Carlos, quer dar a Embaixada de Washington para Eduardo e, mais grave, colocar a Procuradoria da República nas mão de Flávio, que hoje é um suspeito de crime contra o patrimônio público.

Joaquim de Carvalho

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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