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Bolsonaro e Weintraub desmoralizam o Banco Mundial. Por Moisés Mendes

Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub

Pode fazer sentido, como formalidade, a resposta do Conselho de Ética do Banco Mundial à carta de funcionários da organização com o alerta sobre quem é Abraham Weintraub. Mas a resposta não pode ser aceita sem questionamentos.

Sabe-se que os servidores alertaram que Weintraub é um sujeito em desacordo com tudo o que o banco prega. E relacionaram as atitudes reprováveis do sujeito que é processado por racismo.

O conselho respondeu que, nesse caso, não pode aconselhar nada, porque não tem o direito de influenciar na nomeação ou eleição de um diretor executivo.

O código de conduta da instituição só pode ser aplicado para funcionários já empossados. Foi a resposta do presidente do conselho, Guenther Schoenleitner.

Não precisa dizer mais nada. Imaginemos que um criminoso em situação ainda mais grave do que a de Weintraub (sim, deve existir) seja indicado por um déspota para a direção do Banco Mundial.

O conselho de ética pode dizer que criminoso praticou o crime antes de assumir? Pode acontecer, ou o conselho calibra as denúncias de acordo com a gravidade? Qual crime não seria admitido? Homicídio? Pedofilia? Assalto?

Quem então poderá impedir que um sujeito como Weintraub assuma um alto cargo de direção no Banco Mundial, que tem objetivos conflitantes com tudo o que ele pensa e faz?

Ninguém poderá. Weintraub somente seria submetido aos mais altos padrões de conduta da organização depois que assumisse o cargo, em nome de Brasil, Colômbia, Equador, Haiti, Panamá, Suriname, República Dominicana, Filipinas e Trinidad & Tobago.

Ficou ruim para todos, menos para Bolsonaro e seu indicado, porque nem a administração do banco nem o Comitê de Ética podem impedir a nomeação ou a eleição de um diretor executivo. E o Brasil tem maioria de votos para indicar quem quiser.

Os funcionários não desistiram e enviaram uma carta à direção. Disseram que os membros do conselho (o caso de Weintraub, se for mesmo confirmado), “como oficiais do Banco Mundial, devem agir em conformidade com os valores da instituição”.

E acrescentaram: “Deveria ser bastante razoável esperar que o Banco Mundial tenha uma palavra a dizer quando o candidato nos expõe a um risco de reputação considerável e compromete nossa capacidade de cumprir nossa missão”.

Uma palavra a dizer? Talvez não digam nada. Tem sido divulgado que uma das prioridades do Banco Mundial hoje, como retórica e como ação, é o combate ao racismo, dentro e fora da instituição.

Pois o Banco Mundial terá a situação inédita de empossar um diretor acusado de racismo por tentar desqualificar os chineses e os índios.

O Banco Mundial pode combater o racismo cometido fora do seu prédio, mas pode também acolher um processado por racismo, autor de declarações inquestionáveis de preconceito, porque não há regras que tratem desse impasse.

Se o Banco Mundial não consegue lidar com essa situação, vamos esperar o quê de entidades e organizações sem o mesmo poder político?

Weintraub e Bolsonaro desmoralizaram o Banco Mundial, que talvez só não aceite a existência de racistas fora dos seus quadros. Dentro pode.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/

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Moisés Mendes

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