Qual foi o Bolsonaro que sobrou? Por Moisés Mendes

Atualizado em 11 de setembro de 2021 às 15:13
Bolsonaro em live – Foto: Reprodução

Qual foi o Bolsonaro que sobrou?

Por Moisés Mendes

Este Bolsonaro descontraído, debochado e agressivo desta foto continuará existindo depois do acovardamento e da nota em que bajula Alexandre de Moraes?

Abaixo, perguntas elementares motivadas pelo pedido de trégua do indivíduo e das muitas dúvidas acionadas pelo que pode vir a ser o novo Bolsonaro:

1. Até quando Bolsonaro irá ficar apenas se explicando sobre a nota escrita por Michel jaburu Temer e voltar ao ataque?
Bolsonaro voltará atacando o Supremo, como se nada tivesse acontecido, como já fez outras vezes?

Afinal, que Bolsonaro foi esse que sobrou do pedido de paz e amor ao Supremo?

2. Até quando os filhos de Bolsonaro continuarão em silêncio, se eles sempre amplificaram as falas do pai?

O único a falar, e que sempre foi o que menos fala, foi Flavio, que pediu calma à militância porque o capitão sabe o que faz. “Confiem no capitão”, disse Flavio. Confiem no quê?

Entre os militares, a única voz ouvida foi a do general Augusto Heleno, que também falava alto e produzia notas que reafirmavam as ameaças de Bolsonaro.

Pois Heleno largou um vídeo, na noite de sexta-feira, em que afirma que “alguns fatos deixaram muitos desanimados” (referindo-se ao recuo de Bolsonaro depois das manifestações do 7 de Setembro) e que “a esquerda sofreu também um duro revés: descobriu que o presidente Bolsonaro não tinha qualquer intenção de dar o golpe”.

O ameaçador Heleno foi o encarregado de anunciar, em nome dos militares, no mesmo tom ameno do novo Bolsonaro, que o golpe não será dado.

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3. Qual será postura de Alexandre de Moraes em relação ao inquérito das fake news e dos atos pró-golpe, que ele relata no Supremo?

Moraes já mandou prender, já mandou a Polícia Federal fazer buscas e apreensões, já determinou quebra de sigilo e mandou bloquear contas e perfis de golpistas na internet.

O ministro continuará com o mesmo ímpeto?

4. Essa é uma questão inquietante. Alexandre de Moraes reuniu-se na quinta-feira, dia 9, com Michel Temer. No mesmo dia, conversou ao telefone com Bolsonaro.

Na sexta-feira, teve reunião com o ministro da Justiça, Anderson Gustavo Torres. O ministro de Bolsonaro disse que a conversa de quatro horas, na casa de Moraes, em São Paulo, havia sido “cordial e respeitosa”.

Com quem mais Moraes vai se reunir, enquanto cuida dos inquéritos que envolvem os filhos de Bolsonaro e que acabarão envolvendo o próprio Bolsonaro?

O próprio Torres participou ao lado de Bolsonaro de uma live, em 29 de julho, em que o tema foi a urna eletrônica. Torres defende na live o voto impresso.

Torres é investigado no inquérito que apura os ataques de Bolsonaro às urnas, porque teria levado peritos da Polícia Federal ao Planalto, com informações sobre as suspeitas em torno das urnas, que poderiam abastecer Bolsonaro.

Pois a pergunta é esta: o ministro que Bolsonaro chamou de canalha (que teria todas as suas decisões desobedecidas pelo sujeito) e que preside inquéritos decisivos para o futuro político de Bolsonaro e que envolvem Torres pode se reunir com qualquer emissário de Bolsonaro, inclusive um investigado?

5. Qual será a postura do Congresso, depois da trégua, em relação aos pedidos de impeachment de Bolsonaro?

Os pedidos nunca prosperaram, desde quando a Câmara era presidida por Rodrigo Maia. Não devem prosperar sob o comando de Arthur Lira.

Mas a oposição vai tirar o pé e deixar de tratar do impeachment como bandeira contra o sujeito que teria desistido do golpe?

6. O que os bolsonaristas de raiz, que sempre seguiram cegamente Bolsonaro, acharam do recuo? Há informações captadas nas redes sociais de que os mais gritões contra Bolsonaro são minoria.

A maioria teria continuado fiel ao líder e já está à espera do novo gesto radical. Mas qual será o novo gesto?

(Texto originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES)