Bolsonaro vende ao TSE que podia atropelar lei ao despir faixa presidencial. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 5 de outubro de 2023 às 13:36
Ex-presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

Leonardo Sakamoto

Bolsonaro usou a estrutura das celebrações do Bicentenário da Independência, em 7 de Setembro de 2022, bancadas com cascalho do contribuinte, para comícios eleitorais em Brasília e no Rio. Agora, passada a ressaca da derrota e da tentativa de golpe, sua defesa teve que rebolar diante do TSE para provar que ele não fez o que fez. E, da necessidade, surgiu a “Defesa Clark Kent”.

Como noticiou Carolina Brígido, no UOL, o ministro Benedito Gonçalves, do Tribunal Superior Eleitoral, encerrou nesta quarta (4), a instrução de duas ações de investigação eleitoral contra o ex-presidente por campanha à reeleição durante os festejos oficiais do 7 de Setembro. Elas podem condená-lo, mais uma vez, à inelegibilidade.

Nas ações, a defesa abraçou o argumento de que havia “clara diferenciação, com bordas cirúrgicas limpas e delimitadas” entre as atividades oficiais e os comícios eleitorais. E uma das “provas” seria que Jair ostentava a faixa presidencial nas atividades oficiais e não estava com ela no comício. Sim, foi isso mesmo o que você leu.

Ou seja, com faixa, presidente da República Federativa do Brasil, sem faixa, candidato à reeleição. Ignorando que o candidato à reeleição se beneficiou da estrutura e do público oriundos do ato oficial com o presidente.

Taí a “Defesa Clark Kent”: com óculos, um pacato jornalista do Planeta Diário, sem óculos, o todo-poderoso Super-Homem, último filho de Krypton.

Data venia aos defensores de Jair, mas eles estão tratando os ministros do TSE como uma versão togada de Lois Lane, que não percebia que Clark Kent e Kal-El eram a mesma pessoa.

A defesa ainda diz que “não existiu qualquer aproveitamento, intencional ou não, da estrutura do 7 de Setembro para fins eleitorais”, concluindo-se que houve, “ao fim e ao largo do evento oficial, simplesmente, uma singela demonstração da força política de Bolsonaro”.

Na verdade, as celebrações do 7 de Setembro de 2022 foram cirurgicamente pensadas para servirem às necessidades do presidente. Ele se aproveitou de uma data cívica especial para sobrepor um comício. Pessoas que estavam interessadas em ver a festa do Bicentenário também tiveram que participar de uma micareta eleitoreira.

Apoiadores de Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. (Foto: Reprodução)

Entre as necessidades, a principal foi produzir imagens a fim de serem usadas nas redes sociais, aplicativos de mensagens e em seus programas eleitorais de TV. A ideia era construir uma narrativa de que as pesquisas de intenção de voto mentiam e que o “Datapovo” mostrava a verdade.

Fotos e vídeos produzidos nos comícios do 7 de Setembro circularam instantaneamente pelos grupos bolsonaristas de WhatsApp e de Telegram e pelas redes sociais, mostrando a multidão, que seria a “prova” de que Jair estava à frente.

Não estava, tanto que perdeu a eleição. E foi para cima da democracia.

Chamados como testemunhas pela defesa, o senador Ciro Nogueira, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o governador do Rio, Cláudio Castro e o ex-deputado federal e hoje detento em Bangu por ameaçar ministros do STF, Daniel “Surra de Gato Morto” Silveira, narraram o que viram nos comícios de Brasília e do Rio. E se contaram o que viram, o relato da realidade não será nada bom para Jair.

Como ele não pode tirar o óculos e sair voando, o mais provável é que amargue mais uma condenação eleitoral. Dizem que a estrada para o xilindró vai estar pavimentada com inelegibilidades.

Publicado originalmente na coluna de Leonardo Sakamoto, no Uol

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