Cabral diz que esquema na Saúde envolvia o arcebispo do Rio — que fez campanha para Bolsonaro pelos ‘valores cristãos’

Atualizado em 27 de fevereiro de 2019 às 7:22

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral disse, em depoimento na terça, dia 26, que resolveu revelar seus esquemas de corrupção para ficar bem consigo mesmo.

Depois de dois anos e três meses preso, Cabral alegou ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, que é um homem “muito mais aliviado”.

“Em nome da minha mulher, da minha família e da história, decidi falar a verdade”, mandou. 

“Esse foi o meu erro de postura, de apego ao dinheiro, ao poder. Isso é um vício”.

Cabral é um pilantra e o arrependimento vale um ovo frito, mas o que ele contou a respeito de uma das figuras mais honoráveis do estado é curioso.

Segundo ele, o desvio de recursos na saúde pública envolvia religiosos. E não se fala aqui de evangélicos.

Citou o purpurado cardeal Dom Orani Tempesta, arcebispo da Arquidiocese do Rio.

“Não tenho dúvida de que deve ter havido esquema de propina com a O.S. da Igreja Católica, da Pró-Saúde. O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso”, acusou.

“Tinha o dom Paulo, que era padre, e tinha interesse nisso. E o Sérgio Côrtes nomeou a pessoa que era o gestor do Hospital São Francisco. Essa Pró-Saúde certamente tinha esquema de recursos que envolvia religiosos. Não tenho a menor dúvida”.

Sem fins lucrativos, a entidade é uma das maiores em gestão de serviços de saúde e administração hospitalar do Brasil. Tem sob sua responsabilidade mais de 2 068 leitos e 16 mil profissionais.

Vale lembrar que Tempesta era figurinha fácil nos convescotes dele e do prefeito Eduardo Paes.

Não são os únicos políticos que conheceu biblicamente.

Abraçou Jair Bolsonaro.

Em outubro, Jair encontrou-se com o eclesiástico para uma papagaiada moralista da campanha

“Assumimos o compromisso em defesa da família, em defesa da inocência da criança, em defesa da liberdade das religiões, contrários ao aborto, contrários à legalização das drogas”, disse Bolsonaro ao lado do clérigo.

“Não queremos mais flertar com o desconhecido ou com aquilo que não deu certo em lugar nenhum do mundo”.

Como parte do teatro, assinou um documento vagabundo exaltando valores conservadores. No final da reunião, prestou-lhe continência.

Dom Orani nunca se manifestou sobre o rendez vous.

Uma foto viralizou: funcionárias da Arquidiocese com camisas da CBF posaram para as câmeras fazendo sinais de arminha diante de uma imagem de Jesus Cristo.

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que uma delação premiada seja sugerida para santos como Dom Orani.