Caetano Veloso, São Paulo, 13/04/13

Nosso crítico resenha o show da turnê do álbum Abraçaço em São Paulo.

capa do ábum que dá nome ao show

O Caetano Veloso é um artista inquieto. Aos 70 anos, poderia estar tocando o velho samba tropicalista com uma banda de 8 músicos, fazendo o esforço mínimo, artística e fisicamente falando. Mas não. Lá estava ele com um violão branco acompanhado de um trio tocando algo que só posso chamar de indie-samba-rock, dançando, caindo, fazendo pose.

Isso não diz nada sobre o show, é verdade. Mas é um mérito que eu gostaria de reconhecer.

O show me trouxe surpresas positivas. “A Bossa Nova É Foda” e “Odeio” são grandes músicas dos álbuns novos, já gravados com a banda Cê. Aliás, houve uma trilogia feita com esta formação indie-samba-rock. “Cê” é o primeiro disco, e que deu nome à banda. Foi seguido de “Zii e Zie” e, agora, “Abraçaço”.

Para mim, junto com estas duas, as melhores do show foram “Eclipse Oculto” – “o corpo não agia como se o coração tivesse antes que optar entre o inseto e o inseticida” e Reconvexo – “quem não rezou a novena de Dona Canô (…) quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo”.

Mas tem muita coisa chata aí no meio. Coisas repetitivas, com dinâmicas difíceis de entender e acompanhar. Honestamente, houve momentos do show em que me senti entediado.

Eu não entendi, por exemplo, o propósito de “Alguém Cantando”. Não vai, não volta, tem mensagem disconexa. Por exemplo, eu não gosto de “A Luz De Tieta” ou mesmo “O Império da Lei”, mas entendo a lógica das obras. Mas há algumas músicas que parecem simples encanação do artista com um tema ou uma frase.

Mesmo assim, com a mesma honestidade, digo que é um show que vale a pena. É um artista inteligente, um letrista brilhante – que erra, obviamente, mas com erros e acertos, sua busca encontra expressões inteligentes para emoções interessantes.

Caetano não conversou com a platéia, o que foi uma surpresa para mim. Exceto pelas várias apresentações no VMB, a última vez que o tinha assistido ao vivo em show completo foi na inauguração do Credicard Hall, no famigerado show ao lado de João Gilberto. Enfim, foi aquele mesmo, você sabe de qual estou falando.

Naquela ocasião, Caetano me pareceu muito conversador. Esta noite, não. Para não dizer que ele não abriu a boca para nada além de cantar, ele perguntou se havia aniversariantes no HSBC Brasil antes de tocar a música “Parabéns”. Mas ele é um cara simpático mesmo em silêncio.

Ruivo

Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ

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