Por Bruno Fonseca
Mais de R$ 13 milhões pagos em hospedagem durante quatro anos — essa é uma das revelações dos dados de gastos do cartão corporativo do Governo Federal durante o governo Bolsonaro. Os valores foram publicados no site da Secretaria da Presidência da República na noite desta quarta-feira (11). Na mesma data, o Governo Federal respondeu a um pedido de Acesso à Informação da Agência Pública informando a liberação dos dados.
Segundo a Pública apurou, nenhum dos gastos foi feito através do CPF de Jair Bolsonaro ou da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Os valores foram pagos por funcionários da Secretaria da Presidência, como Magda Oliveira de Myron Cardoso. Estão no nome dela a maior parte dos pagamentos com o cartão corporativo durante o governo de Bolsonaro — mais de R$ 4 milhões.
Os gastos do “cartão corporativo”, nome pelo qual o cartão de pagamento do Governo Federal se popularizou, vinham sendo solicitados pela Pública e diversas outras organizações e veículos jornalísticos há anos. Apenas uma parte dos gastos era conhecida. Outra, ficava sob sigilo no site do Portal da Transparência, e o governo negava o acesso via Lei de Acesso à Informação.
Agora, com os dados divulgados pelo governo, é possível saber os nomes dos estabelecimentos que foram pagos usando os cartões, os valores individuais dos gastos e quem foi o responsável por esses pagamentos.
O cartão de Magda, por exemplo, foi o utilizado no dia 16 de abril de 2022 para pagar R$ 107 mil em hospedagens na Hotur São Paulo Participações e Empreendimentos, empresa hoteleira sediada no Guarujá, no litoral de São Paulo. Na data — o feriado de Páscoa — Bolsonaro esteve de folga na cidade, após realizar uma motociata até Americana. Na praia, ele conversou com apoiadores, disse que pretendia assistir a uma partida de futebol do Santos e foi recebido aos gritos de mito em uma pizzaria.
Além dos R$ 107 mil gastos com a hospedagem na praia, o cartão da presidência mostra diversos outros pagamentos com alimentação, combustíveis e transporte naquele fim de semana Ao todo, foram R$ 174 mil pagos no cartão entre 16 e 17 de abril, quando Bolsonaro estava na praia e sem agenda oficial.
A Hotur é o maior gasto do cartão corporativo da presidência com hospedagens em todos os quatro anos do governo Bolsonaro. Segundo a Pública apurou, mais de R$ 1,4 milhão foi pago à empresa por cartões de pagamento da Secretaria da Presidência.
A empresa está sediada numa avenida de alto padrão no litoral do Guarujá, a dois quarteirões da praia. No endereço, está o hotel Ferrareto.
O governo também pagou hospedagens no local em abril de 2019, em janeiro e em novembro de 2020, na virada do ano de 2020 para 2021, em outubro de 2021, novamente na virada de 2021 para 2022, e na Páscoa do ano passado.
Os dados divulgados pela Secretaria de Governo sobre os pagamentos do cartão corporativo de Jair Bolsonaro são parciais. Apenas em 2022 há registro de R$ 14 milhões em pagamentos antes considerados sigilosos pela Secretaria Especial de Administração da Presidência.
As informações divulgadas nesta quarta, contudo, informam ao todo R$ 4,9 milhões de gastos em todo o ano de 2022. Ou seja, há valores que são informados como sigilosos no Portal da Transparência, mas que não estão na lista de gastos divulgados pelo governo federal. A reportagem enviou pedidos de esclarecimentos e entrou com recurso no sistema de acesso à informação e ainda aguarda resposta.
Ao todo, foram liberados dados sobre R$ 27 milhões realizados em pagamentos do cartão corporativo do governo Bolsonaro. Isso equivale a 65% do total que estava sob sigilo de pagamentos do cartão pela Secretaria da Presidência — isto é, há gastos do cartão que não constam na lista tornada pública pelo governo federal.
Se somados outros órgãos relacionados à Presidência, como o Gabinete de Segurança Institucional, os gastos sigilosos do cartão durante a gestão de Bolsonaro ultrapassaram os R$ 75 milhões, o que representa mais de três vezes os valores tornados públicos.
Texto publicado originalmente na Agência Pública
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