Carta ao Povo de Deus: CNBB exime-se, padres apoiam. Por Marcelo Auler

Atualizado em 28 de julho de 2020 às 16:29
Enquanto a CNBB tenta se eximir , movimentos ligados à igreja apoiam o documento. Foto> Reprodução/Blog do Marcelo Auler

Publicado originalmente no blog do autor 

Enquanto a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se exime de qualquer responsabilidade com relação à Carta ao Povo de Deus, assinada por bispos de todo o país, que veio a público no domingo (26/07), um grupo de religiosos prepara um novo documento endossando os termos do manifesto que faz duras críticas ao governo de Jair Bolsonaro. O manifesto de apoio continua circulando pelas listas de WhatsApp em busca de mais adesões.

O documento dos bispos seria divulgado no dia 22 de julho, quando a igreja comemora o dia de Santa Madalena, a Apóstola dos Apóstolos. Mas seus organizadores entenderam melhor encaminhá-lo à presidência da CNBB para ser analisado pelo seu Conselho Permanente, composto pela diretoria da entidade, os presidentes das 18 Regionais e das 14 Comissões da Entidade. O texto, sem as 152 assinaturas anunciadas, acabou sendo vazado para a jornalista Mônica Bergamo, que o publicou em sua coluna na Folha de S.Paulo, no domingo. Neste Blog ele foi reproduzido na íntegra na segunda-feira (27/07) em Carta ao Povo de Deus: uma sinuca para a CNBB.

Nesta terça-feira (28/07), o Blog apresenta a relação (…) de 145 nomes do episcopado brasileiro (incluindo três padres que respondem como administradores temporários da diocese) que aderiram ao manifesto, já considerado um dos mais fortes pronunciamentos políticos da igreja católica nos últimos tempos. Na lista que recebemos havia um nome repetido com grafia diferente e não constava o bispo emérito de Duque de Caxias, dom Mauro Morelli, que pediu sua inclusão depois. Nela há assinaturas de bispos dos 26 estados. Apenas o Distrito Federal, onde estão cinco bispos (três eméritos), não teve nenhuma representação.

Oficialmente a cúpula da CNBB se exime de qualquer responsabilidade sobre o texto. Aparentemente, evita bater de frente com o governo, o que certamente desagradaria o segmento mais conservador da igreja. Nesse sentido, o vazamento do documento pode lhe ter sido favorável, pois a desobriga de se pronunciar sobre o mesmo.

Ao ser procurada pelos jornalistas, sua assessoria de imprensa limita-se a repassar um lacônio comunicado: “Essa carta não foi feita pela CNBB, é uma carta dos signatários. Portanto, não reflete o posicionamento da Conferência”. A assessoria diz ainda desconhecer se o documento realmente será levado ao Conselho Permanente, que se reúne no início de agosto. É uma tentativa de isenção, porém, para muitos padres e religiosos, é o popularmente conhecido “ficar em cima do muro”.

O documento que a cúpula da igreja no Brasil aparentemente não quer endossar, segundo informou nesta terça-feira Mônica Bérgamo, foi encaminhado ao papa Francisco, no Vaticano, e a dom João Braz de Avis, cardeal brasileiro que integra a Congregação para o Clero. Como noticiamos na segunda-feira e a colunista da Folha lembrou hoje, “o texto, com duras críticas a Jair Bolsonaro, é endossado por religiosos próximos do papa Francisco, como dom Claudio Hummes”, bispo emérito de São Paulo (SP).

Entre um considerável grupo de religiosos, porém, as críticas foram muito bem recebidas e até mesmo comemoradas. Tanto que logo surgiu a ideia de uma manifestação pública não apenas de apoio ao texto, mas também com a finalidade de ressoarem o texto nas comunidades católicas. Na manhã desta terça-feira já se contava mais de duas centenas de assinaturas de apoio. Isto, apesar de nem todos os padres e religiosos que concordam com a manifestação poderem endossá-la publicamente por conta de futuras reprimendas.

Leia o texto na íntegra aqui.