Caso do outdoor da Lava Jato em Curitiba mostra que Moro e Dallagnol vão levar outros para a lama da história

Atualizado em 27 de julho de 2019 às 12:09
Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho prevaricou ou foi enganado? Foto: Edilson Rodrigues/Senado

É o caso de perguntar: a quem interessa o abraço de afogados com Sergio Moro e Deltan Dallagnol?

Vejamos a situação do procurador Fernando Bandeira de Mello, do Conselho Nacional do Ministério Público.

Em 17 de julho revelamos com exclusividade aqui no DCM a ginástica jurídica que ele teve de fazer para arquivar a representação sobre a instalação de um outdoor nas proximidades do Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, em comemoração aos cinco anos da Lava Jato.

A peça traz a colagem de uma foto dos procuradores sobre uma estilização da bandeira do Brasil, dando boas-vindas a quem chega a capital do Paraná.

“Bem-vindo à República de Curitiba — terra da Operação Lava Jato, a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre”, propagandeia o painel.

Bandeira de Mello recebeu um pedido de providência para saber quem seriam os financiadores.

Não se sabe se por incompetência, ou má fé, mandou para as calendas um caso notório de estelionato, em que o financiador indicado, além de laranja, era um fantasma.

Agora sabemos, graças aos diálogos vazados pelo hacker de Araraquara, que Bandeira de Mello pode ter prevaricado, ao não intimar quem deveria e aceitar como argumento um documento fake.

Se tivesse cumprido sua função como deveria, e não se deixado enganar por Deltan e cia., o procurador do CNMP iria saber que o verdadeiro financiador do painel é o seu colega Diogo Castor de Mattos, que foi inclusive afastado da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná por causa disso.

A história, segundo a revista Época, foi revelada pelo hacker que teve acesso a mensagens privadas do grupo, Walter Delgatti Neto, durante depoimento à Polícia Federal nesta semana, e confirmada na noite desta sexta duas fontes da Lava Jato.

O procurador da República Diogo Castor de Mattos foi afastado da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná porque participou do financiamento de outdoors com uma campanha de apoio à Lava Jato, que os próprios colegas entenderam ser conflituoso com o exercício da função. A história foi revelada pelo hacker que teve acesso a mensagens privadas do grupo, Walter Delgatti Neto, durante depoimento à Polícia Federal nesta semana, e confirmada na noite desta sexta à coluna por duas fontes da Lava Jato.

O outdoor foi instalado em março deste ano na rodovia de acesso ao aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. A peça trazia imagens de nove procuradores e a seguinte mensagem, sem assinatura: “Bem-vindo a República de Curitiba – terra da Operação Lava Jato – a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março, cinco anos de Operação Lava Jato – O Brasil Agradece”.

Na época, coletivos de advogados criticaram a veiculação do outdoor por entender que ela feria “o princípio constitucional da impessoalidade”. Eles cobraram investigação sobre a autoria e a forma de financiamento do outdoor.

Castor foi afastado da força-tarefa em abril deste ano. Na época, reservadamente, colegas atribuíram a sua saída apenas a uma recomendação médica, em razão de estafa física e mental relacionada ao trabalho desenvolvido no MPF. Publicamente e em nota oficial, os procuradores apenas agradeceram a ele “pelos cinco anos em que se dedicou, com excepcional esforço, às investigações”.

Procurada nesta sexta-feira, a Força-Tarefa Lava Jato informou que não comentaria as razões da saída de Diogo Castor.