Cérebro da criança pobre tem menor desempenho cognitivo, dizem neurocientistas

Atualizado em 31 de dezembro de 2021 às 10:02
Veja a fome
Fome no Brasil. Foto: Agência Brasil

O jornalista Roberto Lent publicou no jornal O Globo que o cérebro da criança pobre tem menor desempenho cognitivo. Ele aborda detalhes de pesquisas que abordam questões sociais deles.

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Cérebros de crianças com menor desempenho cognitivo

Jornalista escreve o seguinte:

“A virada do ano é um momento de avaliações e planos, para as pessoas e para os países. Não vale virar essa página sem falar da pobreza brasileira, que já beira perigosamente os 30% da população, mais de 60 milhões de pessoas. Situação dramática que exige o envolvimento de todos os cidadãos, políticos, gestores e profissionais de todas as especialidades. Cientistas também. A luta contra a pobreza não deve ser episódica e eleitoral, mas estratégica e estrutural. Missão humana, mais que humanitária.

A pobreza atinge também o cérebro e suas funções, e preocupa muitos neurocientistas. Quais são os impactos neurais da vulnerabilidade social? Como revertê-los? Para a ciência, pobreza é considerada um ‘determinante distal’ desses possíveis impactos sobre o cérebro. Distal, porque se trata de um conceito agregado, mediado pelos “determinantes proximais”, estes sim os que diretamente influem sobre a estrutura e a função do cérebro. São determinantes proximais as carências alimentares, as doenças causadas pelos ambientes insalubres, o estresse causado pela violência, as desigualdades educacionais, a falta de suporte familiar para crianças pela ausência forçada dos pais que precisam trabalhar fora de casa… Coloque nessa equação uma pandemia, e a situação se transforma numa catástrofe de grandes proporções. Brasil 2022”.

Ele desenvolve:

“Pesquisadores avaliaram a interação entre duas redes neurais relevantes para o desempenho de tarefas cognitivas. Uma é a chamada ‘rede padrão de repouso’, que ativa sincronizadamente um grupo de áreas do córtex cerebral, em situações de placidez mental. Essa rede funciona quando os pensamentos divagam sem qualquer tarefa cognitiva específica. Tudo muda quando aparece alguma coisa concreta para refletir ou fazer: a resolução de uma questão de trabalho ou de uma tarefa escolar, por exemplo. Nesse caso, outra rede, chamada ‘atencional’ é ativada, para que os recursos cognitivos apropriados sejam direcionados à tarefa. Normalmente ativamos uma e desativamos a outra sem esforço, e quanto melhor conseguimos fazer essa operação, mais bem sucedidos somos no funcionamento mental”.

E conclui:

“O trabalho levanta muitas interrogações. Quais são os determinantes proximais desse impacto sobre o funcionamento do cérebro das crianças pobres? Algum deles isoladamente? Ou vários, em terrível soma de danos? Como fazer para reverter o prejuízo, se é que isso é possível depois de anos de pobreza? Além das medidas socioeconômicas indispensáveis, é viável ajudar essas crianças com formas de treinamento cognitivo que mirem especificamente os alvos corticais certos? Questão de todos nós, para refletir e agir, especialmente neste ano eleitoral e daí em diante. Sempre”.

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