Cid diz que dinheiro da venda de dois relógios foi entregue “em mãos” a Bolsonaro

Atualizado em 14 de setembro de 2023 às 19:49
Tenente-coronel Mauro Cid durante depoimento na CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), disse em depoimento à Polícia Federal (PF) que entregou o dinheiro pela venda de dois relógios de luxo “em mãos” ao ex-presidente. A informação é da revista Veja.

“O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas”, disse o tenente-coronel.

De acordo com o militar, o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta do pai dele, o general Mauro Lourena Cid, sacado em espécie e repassado a Bolsonaro. “Em mãos. Para ele”, afirmou.

Cid fechou um acordo de delação premiada com a PF. No último sábado (9), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo e concedeu liberdade provisória ao militar, que estava preso desde maio.

Além de ter participado da venda das joias recebidas por Bolsonaro de delegações estrangeiras, Cid confessou estar envolvido na falsificação de cartões de vacinação contra a Covid-19 e isentou os generais de quaisquer iniciativas golpistas.

O militar assumiu a responsabilidade por tentar fraudar os registros do Ministério da Saúde ao emitir documentos que atestavam que ele, a esposa e as filhas haviam recebido os imunizantes. Segundo Cid, o objetivo seria apenas o de ter em mãos uma espécie de salvo-conduto para ser usado caso a família fosse alvo de eventuais perseguições após o fim do governo Bolsonaro.

“Eu estava com medo de perseguição, a gente não sabia o que ia acontecer. Estava com medo de a minha filha não poder ir para a escola, a minha esposa não poder entrar no mercado”, alegou.

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Sérgio Lima

Na última segunda-feira (14), já em liberdade e usando tornozeleira eletrônica, Cid visitou um colega. Os boatos sobre o conteúdo de sua colaboração, mantida em sigilo, ganhavam dimensão, especialmente em relação à venda das joias. Ele então explicou que, apesar de tudo, não houve intenção fazer nada errado.

Antes de terminar o governo, Bolsonaro pediu ao militar que avaliasse alguns presentes — itens, segundo ele, classificados como “personalíssimos”, ou seja, faziam parte do acervo pessoal do presidente e, por essa razão, podiam ser comercializados.

“A venda pode ter sido imoral? Pode. Mas a gente achava que não era ilegal”, contou o ex-ajudante de ordens.

Sobre o roteiro de teor golpista encontrado em seu celular, Cid afirmou que, pelas funções que exercia, seu telefone canalizava incontáveis mensagens sobre diversos assuntos.

“Eu recebia um monte de besteira nesse sentido, de gente que defendia intervenção, mas não repassava para o presidente. Qual o valor daquele texto encontrado no meu celular?”, disse.

Sua confissão acaba por isentar da tentativa de golpe não apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas também os generais ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Braga Netto (Casa Civil)

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