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Ciro, Carlos Lupi e o pinscher que rosna para pitbull. Por Carlos Fernandes

Ciro e Carlos Lupi

Vivemos um momento político tão conturbado que, pela névoa turva que se formou na arrebentação, já tem até pinscher rosnando para pitbull.

A declaração do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ameaçando a direção do PT afirmando que o partido “precisa tomar cuidado” pois “um veto agora pode inviabilizar, por exemplo, nossa aliança até mesmo no segundo turno”, escancara o mal que faz setores da esquerda abdicarem de seu protagonismo conquistado em décadas de luta por medo dos desafios que ora se apresentam.

Um leitor desavisado, diante tal bravata, diria que Lupi preside o maior e mais coeso partido do país e detêm a candidatura à frente de todos os cenários testados por todas as pesquisas até aqui apresentadas.

Poderia jurar até, que o PDT ganhou as eleições presidenciais no Brasil nas últimas quatro eleições, que possui a mais fiel militância entre todos os partidos, que é dono do maior capital político do país e é responsável pelas maiores conquistas econômicas e sociais de toda a nossa história.

Seria simplesmente risível se não representasse o resultado prático da percepção de um certo vacilo na certeza de que é possível revertermos esse quadro de quebra institucional por parte de quem se acovardou e que agora busca portos mais seguros.

E isso é um contrassenso escandaloso.

Carlos Lupi definitivamente não possui estatura moral e política para exigir, muito menos ameaçar, qualquer apoio vindo do PT.

Seu candidato, com toda a exposição que está tendo, seja na mídia golpista, seja na mídia progressista, está longe de sair do patamar de um mísero dígito na preferência do eleitor e não possui sequer ¼ do percentual da capacidade de Lula em transferir seus votos. Hoje avaliada em algo acima dos 20%.

Que agora venha dizer que até mesmo uma aliança no segundo turno estaria prejudicada, fora o escárnio, desnuda um pouco do tipo de acordo que estão dispostos a fazer para ganhar o pleito.

Absolutamente ninguém dito do campo progressista será capaz de ganhar essas eleições sem o apoio direto do PT. Esse é um fato irrefutável.

Dessa forma, partindo-se de um pressuposto improvável que a candidatura petista não chegue ao segundo turno e que Ciro Gomes consiga chegar ao dia da eleição sem dizer nenhuma bobagem que ponha tudo a perder, Carlos Lupi, ao abdicar de uma aliança com o PT, está a admitir que o seu candidato, de progressista, não tem nada.

Se assim for, que se refestele na disputa pelos votos de Jair Bolsonaro, Marina Silva e Geraldo Alckmin.

É óbvio que precisamos todos estarmos unidos. Essa união, porém, não impede que os diversos partidos de esquerda exerçam o seu direito pleno, legal e legítimo de apresentarem suas propostas e ideias.

Daí a minha defesa intransigente não só por uma candidatura petista, mas também pelas candidaturas de Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e do próprio Ciro Gomes, apesar de este último estar longe, muito longe, de ser alguém que realmente se identifique com alguma coisa minimamente parecida com a esquerda.

No segundo turno, seja lá quem de fato da esquerda esteja lá, contará inevitavelmente com o apoio de todos os progressistas. Mas para isso, é imprescindível que arroubos de delírios como esse de Carlos Lupi sejam evitados.

Até porque o seu candidato, Ciro Gomes, já preenche toda a cota de dizer a coisa errada na hora errada.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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