Ciro e o PDT não são trabalhistas, brizolistas. Por Vivaldo Barbosa

Atualizado em 27 de fevereiro de 2021 às 19:10
Ciro Gomes. Foto: Mauro Pimentel/AFP

Por Vivaldo Barbosa

Ciro Gomes voltou a destilar seu ódio contra o PT e as demais forças populares em entrevista à Folha e revelou seu jogo político e ideológico.

Ciro revelou o seu papel, o que disse ser sua tarefa: tirar Lula e o PT do segundo turno e todas demais forças populares para ficar somente ele, o DEM e o PSD-Kassab contra Bolsonaro no segundo turno. É lógico: todos da ARENA antiga, apoiadores do regime militar. ACM, Kassab, Ciro e Bolsonaro eram da ARENA, que depois passou a se chamar PDS, depois PFL e PP, depois DEM, PP, PSD, tudo chocado no mesmo ninho. Ciro surge no ambiente politico das oligarquias e de gente endinheirada no Ceará, comandadas ´por Tasso Gereissati. Agora, por traição à história e a Brizola, jogam o PDT no colo da direita, do conservadorismo.

Além disso, como Ministro da Fazenda de Itamar, implantou políticas neoliberais: Ciro baixou as tarifas de importação de diversos produtos, acelerando a desindustrialização do país, que deixou industrialistas estarrecidos. Lembro do que dizia Arthur João Donato, presidente da FIRJAN. Em debate na época, disse que era preciso conter a Petrobras, no que recebeu severa reprimenda da Maria da Conceição Tavares.

Brizola apoiou Ciro em 2002, é fato. Mas se desencantou no final, saiu da campanha, abandonou, inclusive, a campanha própria de Senador. Nunca mais se viram, nem se falaram. A não ser no dia em que Lula anunciou seu Ministério: os dois se cumprimentaram. Lula havia chamado Brizola para troca final de ideias sobre o Ministério.

Não soa uma frase, um pensamento que lembre o trabalhismo e o pensamento fértil de Brizola. No PDT, idem: não há mais nada de Brizola. Nenhuma ideia do trabalhismo e de Brizola é lembrada. Seus dirigentes se sustentam através de manipulação de fundo partidário para amigos e aliados e comissões provisórias nomeadas para estados e municípios, sem convenções, sem participação de militância. O presidente se preocupa com nomeações dos filhos, genros, esposa, irmã no Partido e nos cargos das bancadas na Câmara, Senado e Assembleias. Contrata empresas de amigos.

Virou um partido fisiológico, no caminho que seguiu o PTB.

Ciro falar que trabalha união de centro-esquerda com ACM Neto/DEM e Kassab soa tão estranho quanto suas falas em economia. Como é possível qualificar de centro-esquerda essa gente neoliberal e fisiológica?

Sobre papel do Estado, mercado e desenvolvimento continua a mesma falta de definição e frases evasivas. Nenhuma palavra sobre os direitos do povo brasileiro. Nem sobre o domínio das nossas riquezas ou sobre nossa soberania. Tudo o que marcou a trajetória do trabalhismo. Ciro parece fugir do trabalhismo como o outro foge da cruz.

Ciro repete sempre lulo-petismo como xingamento. Refere-se a Lula como “loucura e caudilhismo”. Repete os ataques da direita, do conservadorismo, como se fazia antigamente com os comunistas. E o faz às vésperas da possibilidade de devolver os direitos políticos de Lula, fazendo-se justiça com sua absolvição. Uma luta que está envolvendo até gente no exterior. Isto não é à toa, não é inocente. Há método nessa loucura, como dizia o Shakespeare.