Com derrota do voto impresso, Bolsonaro ganha o que de fato queria: a retórica para seu “Capitólio de Brasília”

Atualizado em 10 de agosto de 2021 às 23:23

Publicado originalmente no blog do autor

Por Jeferson Miola

Jair Bolsonaro durante desfile militar. Foto: Reprodução

Bolsonaro não pautou a discussão sobre voto impresso por apreço democrático ou por compromisso com a fiel expressão da soberania popular.

Simulando falso fervor democrático, ele e os generais-chefes do governo militar chegaram a ameaçar o “cancelamento” da eleição de 2022 e atacaram o STF e o TSE caso o voto impresso não fosse adotado.

Até montaram o circo ridículo da “tanqueada” de ferros-velhos das Forças Armadas para intimidar o Congresso neste dia [10/8] de votação da emenda constitucional [PEC 135] do voto impresso. O máximo que conseguiram com o espetáculo deplorável das quinquilharias bélicas, contudo, foi a completa desmoralização nacional e internacional.

Bolsonaro sempre calculou que dificilmente teria os 308 votos na Câmara para aprovar a PEC. Apesar disso – ou exatamente por isso –, o governo e sua base congressual insistiram na iniciativa e esgarçaram o ambiente político com o objetivo central de deslegitimar a eleição e gerar caos político em 2022 ao estilo do promovido por Trump nos EUA no Capitólio [Congresso estadunidense] em 6 de janeiro passado.

A derrota do governo militar na próxima eleição presidencial é uma hipótese bastante realista. Por isso os militares operam pelo menos dois cenários, em simultâneo: por um lado, buscam se mimetizar no corpo da chamada 3ª via com Moro, Mourão, Santos Cruz e quejandos; e, de outra parte, preparam as condições para espatifar a eleição e instalar o caos no país.

Para Bolsonaro e os generais-chefes do governo militar, a derrota da PEC 135 não significa um revés imprevisível, porque com a derrota do voto impresso, eles ganham o que de fato queriam, que é a retórica para promoverem o “Capitólio de Brasília” em 2022.

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