Com três vezes mais mortes que Israel, Gaza recebe migalha humanitária. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 21 de outubro de 2023 às 11:07
Homem carrega o corpo de uma criança palestina morta em ataques israelenses próximo a um hospital em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza
Imagem: Mohammed Salem – 17/out.23/Reuters

Por Leonardo Sakamoto 

No momento em que o conflito ultrapassa três mortes em Gaza (4.385, segundo o Ministério de Saúde local) para cada uma em Israel (mais de 1,4 mil), taxa que tende a continuar escalando com o cerco, os bombardeios, a onda de refugiados interna e a iminente invasão terrestre, os palestinos começam a receber ajuda humanitária em quantidade insuficiente para sua sobrevivência.

Apenas 20 dos mais de 200 caminhões que esperam em uma longa fila no lado egípcio da fronteira foram autorizados a entrar pela passagem de Rafah. Israel quer a inspeção de tudo. E há dúvidas sobre a segurança dos comboios, uma vez que os bombardeios não cessam.

As imagens dos (poucos) caminhões adentrando o território serão usados como propaganda interna e externa pelos Estados Unidos, que ajudou a costurar a entrada – enquanto vetava proposta de resolução do Conselho de Segurança, articulada pelo Brasil, que pausaria o conflito e criaria corredores humanitários permanentes e seguros.

Claro que os suprimentos, que serão recebidos e administrados pelo Crescente Vermelho (a versão da Cruz Vermelha que atua em países islâmicos), são um alívio para uma população que está sendo vítima de um crime contra a humanidade perpetrado por Israel como retaliação ao odioso ataque terrorista do Hamas. Mas seriam necessários 20 caminhões destes a cada cinco horas para reestabelecer o mínimo de dignidade aos palestinos.

Homem com criança palestina morta no colo. Foto: Reprodução

Por enquanto, são apenas “migalhas” ou “uma gota no oceano”, nas palavras de organizações de saúde que atendem os palestinos, considerando que bloqueio israelense está estrangulando a vida no território. A falta de água tratada para beber, cozinhar, tomar banho e para saneamento básico já gera alerta de cólera. O racionamento de comida provoca fome. A ausência de remédios e produtos hospitalares aumentam a chance de morte.

Como Israel cortou a eletricidade e combustíveis, nem precisa de bomba ou míssil para detonar hospital, uma vez que eles estão parando por pane seca em seus geradores.

Mais do que a necessidade da ampliação da abertura na passagem de Rafah para a entrada de produtos e a saída de estrangeiros (inclusive brasileiros) e de refugiados, espera-se que Israel seja pressionada a suspender o bloqueio através do qual está punindo coletivamente todo um povo pelos crimes cometidos por um grupo.

Nada indica, contudo, que isso irá acontecer. O que indica que Tel Aviv deve perder mesmo se ganhar.

Originalmente publicado no UOL

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