Como delegado Rivaldo Barbosa obstruiu apuração do caso Marielle, segundo a PF

Atualizado em 25 de março de 2024 às 10:52
O delegado Rivaldo Barbosa. Foto: reprodução

O relatório final da Polícia Federal (PF) revela que houve uma tentativa deliberada de obstrução das investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.

Segundo a PF, essa ação intencional resultou na perda dos momentos iniciais após o crime, conhecidos como as “horas de ouro”, durante as quais se busca evidências cruciais para desvendar os casos, conforme informações do G1.

No último domingo (24), os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão foram preso, sendo apontados como os possíveis mandantes do atentado ocorrido em março de 2018. Além disso, o delegado Rivaldo Barbosa também foi detido, sob suspeita de planejar o atentado e dificultar as investigações.

Nomeação de Giniton Lages

Segundo a PF, agentes da Polícia Civil estiveram envolvidos na coordenação do crime e, posteriormente, contribuíram para obstruir sua investigação.

Um dos indícios apontados pela PF é que, um dia após o assassinato, o delegado Rivaldo Barbosa nomeou o delegado Giniton Lages, pessoa de sua confiança, como o titular da Delegacia de Homicídios da Capital e encarregado de liderar as investigações.

O relatório revela a proximidade entre os dois, também documentada no livro “Quem matou Marielle?”, escrito por Giniton.

Além disso, a PF sugere que Rivaldo tenha utilizado o delegado “amigo” para impedir o progresso da investigação.

Negativa de ajuda federal

Outro aspecto destacado pela Polícia Federal foi a recusa de Rivaldo em aceitar a assistência da corporação no início das investigações.

Para evitar essa colaboração, afirma a PF, antes mesmo de sua entrevista no RJTV, a Delegacia de Homicídios da Capital divulgou a informação de que as munições do crime foram vendidas em um lote à PF.

Negligência na coleta de imagens

Um exemplo prático que evidencia a negligência na investigação está relacionado à obtenção de imagens do veículo GM/Cobalt.

Em um relato detalhado durante uma das reuniões com os irmãos Brazão, um mês após o assassinato, Ronnie Lessa expressou preocupação com a repercussão do crime. Ele afirmou que os mandantes o tranquilizaram, mencionando que “Rivaldo estaria desviando a atenção para outro lado”.

Essa declaração atribuída a Lessa destaca a entrada de Orlando Curicica e Marcelo Siciliano na investigação, nomes trazidos à tona por Rodrigo Ferreira, conhecido como Ferreirinha, uma testemunha-chave do caso.

Ferreirinha foi preso em 2019 sob a acusação de tentar obstruir as investigações. A PF afirmou que ele fabricou uma narrativa para confundir as autoridades e se vingar.

De acordo com a PF, essa trama de pistas falsas foi coordenada por Rivaldo.

“Em que pese o Delegado Giniton Lages ser o presidente das investigações, a trama para levar Ferreirinha à Delegacia de Homicídios foi arquitetada por Rivaldo Barbosa que, no exercício do cargo de Chefe de Polícia, mobilizou o aparato estatal e viabilizou, junto ao Gabinete da Intervenção Federal, uma sala no Círculo Militar da Praia Vermelha, situado na Urca, para a realização do ato”, informou o relatório da PF divulgado neste domingo.

Após a prisão de Ferreirinha, Rivaldo interveio junto ao Comando-Geral da Polícia Militar para facilitar sua transferência “em razão dos serviços por ele prestados na dinâmica de imputação indevida da autoria mediata do crime ora investigado a Marcelo Siciliano e Orlando Curicica”.

Recompensa por serviços prestados

“Em vez de buscar uma linha de investigação que partisse de provas técnicas e concretas, a DHC enveredou pela construção de uma linha calcada em premissas absolutamente movediças, para apresentar à sociedade a tão cobrada elucidação do Caso Marielle e Anderson”, explica o relatório da PF.

De acordo com a investigação, Giniton Lages foi recompensado por sua “atução canina” por Rivaldo Barbosa como resultado desse método questionável.

Em 27 de dezembro de 2018, apenas quatro dias antes do fim da intervenção federal no Rio e do mandato do então governador Luiz Fernando Pezão, o interventor federal emitiu um decreto promovendo Giniton Lages à 1ª classe, por mérito.

Essa promoção foi considerada incomum, dada a gravidade e a falta de resolução do caso. Rivaldo Barbosa participou de uma reunião do Conselho Superior da Polícia onde a promoção foi discutida.

Curiosamente, Rivaldo não se opôs à indicação de Giniton, apesar de ter alertado posteriormente sobre a anormalidade da promoção.

Segundo a PF, essa trama foi concebida para “garantir a impunidade do crime” e, como resultado, “se livrar das ações criminosas que ele próprio cometeu em conjunto com os autores intelectuais”.

“Rivaldo lucrava enquanto as organizações criminosas empilhavam corpos pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A criação desse ambiente pernicioso permitiu o fortalecimento de grupos criminosos, tendo em vista que a omissão deliberada na repressão dos crimes de homicídio tem o condão de cultivar um ambiente fértil para todo o tipo de criminalidade, sendo esse crime o esgoto no qual desaguam os reflexos dos demais”, diz o relatório da Polícia Federal.

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