Como Haddad passou quatro anos sem mergulhar SP no caos em períodos de chuva. Por José Cássio

Atualizado em 10 de fevereiro de 2020 às 22:54
Simão Pedro

Bruno Covas arrumou uma desculpa manjada para explicar o caos em que São Paulo mergulhou no início desta semana. Segundo ele, o excesso de chuvas que atingiu a cidade durante a madrugada foi a principal causa dos alagamentos e da calamidade que se instalou.

Certo ou não, o fato é que Bruno bateu um recorde: em dois anos, conseguiu mergulhar SP no abismo das águas por duas vezes – ano passado, foi obrigado por João Doria a voltar de um passeio pela Europa acompanhado do amigo e assessor Gustavo Pires.

A título de comparação, na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (2013 a 2016), São Paulo vivenciou chuvas intensas mas nem de longe o estrago foi parecido.

Simão Pedro, que era secretário de Serviços, responsável pela limpeza e manutenção da cidade, falou com exclusividade ao DCM sobre o caos que se instalou e os erros cometidos pelo atual prefeito.

DCM: Em que medida a administração é responsável pelo caos da chuva que devastou a cidade?

Simão Pedro: As chuvas de verão são previsíveis e todos sabem que elas trazem transtornos, especialmente quando chove torrencialmente como foi o caso desta vez.

A gestão municipal tem que preparar a cidade para esse período: obras e ações de prevenção, limpeza mais intensa nos pontos conhecidos de alagamentos, desassoreamento e limpeza dos córregos e ações com o governo estadual.

O que sabemos é que o governo Covas deixou de aplicar cerca de R$ 158 milhões de recursos para prevenção e o governo Dória deixou de aplicar outros R$ 30 milhões nas mesmas ações.

Portanto, são responsáveis diretos pelo estado de calamidade que se instalou.

DCM: No ano passado, tivemos uma chuva parecida e o prefeito foi viajar. A cidade demorou quase um mês pra se recuperar dos estragos: o que poderia ter sido feito, e não foi, para minimizar os problemas de agora?

Simão Pedro: Ser prefeito de São Paulo é uma missão para poucos: tem que dedicar tempo e energia para planejar e executar ações.

Não dá pra pensar em se ausentar em períodos previsíveis de problemas graves.

Neste período de verão, o prefeito tem que estar aqui, prestando solidariedade, coordenando as ações emergenciais, acompanhando de perto a execução orçamentária.

Não é o que vemos.

Covas está com problemas de saúde, sim, mas precisa delegar para seus secretários.

Outra coisa, fiquei sabendo que em muitas prefeituras como a de São Miguel Paulista, onde está localizado o Jardim Romano e Jardim Pantanal, que as equipes e estrutura da Defesa Civil foram desmanteladas. Isso é um absurdo!

DCM: O prefeito fala muito em zeladoria, mas a cidade está suja e mal cuidada. Qual a sua avaliação?

Simão Pedro: A marca anunciada por Covas e seu antecessor Dória é que ser prefeito é ser um zelador.

Uma visão rebaixada do verdadeiro papel de um prefeito de uma metrópole de 11 milhões de habitantes.

O chefe do poder Executivo de São Paulo precisa entender e se comportar como um líder global. As soluções que encaminhar aqui repercutem no País e no mundo.

Por isso, precisa planejar, olhar o futuro, propor obras necessárias, organizar bem os serviços. Como todo mundo nota, a cidade está mais suja e mau cheirosa porque as empresas que ganharam a licitação são fracas, porque a Prefeitura deixou de exigir experiência e permitiu mergulho de preços na concorrência para os contratos de varrição.

Percebo que elas não estão dando conta, estão demorando para recolher o lixo da varrição e das lixeiras.

Se isso já foi percebido pela Imprensa na semana passada em relação ao centro, imagina o que ocorre nos bairros da periferia.

DCM: É possível ter ações preventivas para evitar que a cidade vire um caos a cada chuva forte?

Simão Pedro: Sim. Me lembro que no segundo dia da gestão Haddad, ele chamou todos os secretários, dividiu-nos em grupos e montamos planos emergenciais intersecretariais para os períodos de verão, com planejamento de obras e intervenções nos locais conhecidos de alagamento, investindo tempo e recursos.

E conseguimos melhorar muito. Também importante um plano de diálogo com a população através dos meios de comunicação, redes sociais, placas e avisos, para os cidadãos não serem surpreendidos.

DCM: Chuvas como a desta segunda são consideradas normais em São Paulo, ao contrário do que Bruno tentou justificar.

Simão Pedro: Por isso é preciso considerar que assim com as queimadas na Austrália, o degelo na Antártida, as chuvas intensas também têm a ver com as mudanças climáticas.

Por isso, podemos cobrar o governo Bolsonaro que vem ignorando as ações e tratados assinados pelo Brasil, além de abandonar ações preventivas e de fiscalização e tem incentivado ações como o desmatamento da Amazônia.

Se há algo que a humanidade tem aprendido é que a natureza é generosa, mas ela cobra um preço alto de quem a agride.

Temos que pensar nas ações locais de prevenção e mitigação, mas sem esquecer da questão que são os efeitos que alteraram o clima e que precisam ser revertidos.