Como lidar com a adversidade segundo os filósofos estoicos

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:29
zenon
O destino quis que ele filosofasse mais desembaraçadamente

A grafia é variada. Uns se referem a ele como Zeno, outros como Zenon e alguns como Zenão. A mim, soa melhor Zenão, um dos menos falados e mais fascinantes filósofos da Antiguidade. Nascido em 333 a.C. na ilha de Chipre, filho de pais ricos, Zenão fundou em Atenas uma escola de filosofia que dominou o mundo culto por séculos e cujos fundamentos influenciaram intensamente a doutrina cristã: o estoicismo. Tão forte é a filosofia estóica que “estóico” virou sinônimo de bravura na adversidade. Segundo o mais admirado dicionário inglês, o Oxford, estóico é quem se porta com serenidade diante da revés e do triunfo.

Zenão e seus discípulos nos ensinam a lidar com os altos e baixos da sorte. Conta-se que ele perdeu todo o seu patrimônio em um naufrágio. Seu comentário:”O destino queria que eu filosofasse mais desembaraçadamente.” O nome da escola deriva da palavra grega stoa, pórtico. Zenão, alto, magro, o pescoço ligeiramente inclinado, pregava suas ideias num pórtico erguido pelos atenienses para celebrar a vitória da guerra contra os persas. Esse pórtico era colorido com imagens de gregos derrotando os bárbaros. Na Atenas de então, era comum discutir filosofia em locais públicos, mas a escolha do pórtico de Zenão parece carregada de simbolismo: o triunfo da sabedoria sobre a brutalidade.

O estoicismo defendia, basicamente, uma vida de acordo com a natureza. Simplicidade no vestuário, na comida, no estilo de vida. E a aceitação de tudo o que possa acontecer de ruim. Agastar-se contra as circunstâncias apenas piora o estado de espírito da pessoa: essa a lógica da aceitação, ou resignação, que viria a ser um dos pilares do cristianismo. O lema estóico: abstenha-se e aceite. O apreço pela vida de acordo com a natureza Zenão aprendeu com seu mestre em filosofia, Crates. Crates era da escola cínica. Os cínicos defendiam a simplicidade tanto quanto os estóicos, e não é difíucil entender por que a posteridade ignara lhes atribuiu um notável filósofo cínico, Diógenes – que certa vez se masturbou em público. Explicou aos que o interpelavam: “Gostaria de saciar minha fome esfregando o estômago.”

Não sobrou livro nenhum de Zenão. Atribuem-se a ele frases, das quais uma das melhores diz: “A natureza nos deu dois ouvidos e apenas uma boca para que ouvíssemos mais e falássemos menos.” Ainda assim, mesmo sem uma única obra que sobrevivesse, os ecos da escola que Zenão fundou atravessaram os tempos. Os Ensaios de Montaigne, o último dos gigantes da filosofia, são como que uma ode ao estoicismo. E foram escritos quase dois mil anos depois de Zenão.

Zenão se matou aos 72 anos. Para os estóicos, o suicídio – sem lamúrias, sem queixas – era uma retirada digna e honrosa quando a pessoa já não encontrasse mais razões pa-ra viver. Sabe-se de sua morte pelo biógrafo Diógenes Laércio, autor de A Vida dos Filósofos. Zenão tropeçou e se machucou, segundo Diógenes Laércio. Em seguida citou um verso de um autor grego chamado Timóteo: “Eis-me aqui: por que me chamas?”.

E se enforcou.