Como um país, uma seleção precisa de um líder. Por Fernando Brito

Atualizado em 18 de junho de 2018 às 9:47

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Foto: Reprodução/Tijolaço

Ontem, perdoem a parcial ausência os amigos e amigas do blog, foi dia de Brasil na Copa.

Dia de fazer o que, de quatro em quatro anos, o garoto que ouviu pelo rádio a tristeza de 1966, com a eliminação do Brasil – bicampeão do mundo – já na primeira fase da Copa, mal consolado pelo gol de Rildo nos 3 a um a que Eusébio e Simões abateram o sonho do tri do menino que nascera na primeira taça, não sabia de nada na segunda, mas que  já cria, nas suas calças curtas, no tricampeonato afinal adiado.

E, vendo o jogo contra a Suíça, que está longe de ser um bicho-papão, viu o time desabar à primeira dificuldade, felizmente contra um time que não era, como a seleção alemã de 2014, capaz de se aproveitar do desmonte do time do Brasil.

Não, não, não falta futebol ao Brasil e só com muito contorcionismo mental se pode dizer que existe o “salto alto” dos “invencíveis da família Scolari” de quatro anos atrás.  O time é bom e seu técnico foi capaz de lhe dar um estilo veloz e agressivo.

O que nos falta, até agora, é um líder dentro de campo. Alguém que seja capaz não só de dançar na felicidade, mas de arrostar os infortúnios. Como o Didi, que carrega calmamente a bola de volta ao meio do campo depois de termos começado perdendo a decisão contra a Suécia, em 58. Como Carlos Alberto Torres e a “cacetada” dada no inglês Francis Lee, que havia acertado o goleiro Félix já no chão, depois que este defendera sua quase mortal cabeçada de “peixinho”, quando a Inglaterra dominava o nosso mais difícil jogo na  Copa de 70.

Porque futebol é uma mistura, claro, de talento e de personalidade.

O papel de líder teria tudo para ser de Neymar, mas sua estrutura psicológica, até agora, não se mostrou à altura de exercê-lo. Esteve ausente do jogo e se isso aconteceu por compreensível falta de condições físicas depois de três meses parado foi errado não deixar para lançá-lo no segundo tempo, seja para entrar com o jogo resolvido e adquirir ritmo, seja para chamar a responsabilidade de resolver uma “pedreira”.

A simplicidade do Neymar que surgiu garoto no time do Santos, porém, parece ter dado lugar a uma vaidade que se expressaria melhor na bola.

Exatamente o inverso do que se passou com Cristiano Ronaldo, o grande nome da Copa nesta primeira rodada. Apanhou tanto ou mais que Neymar, mas não se ausentou, chamou para si a responsabilidade, contagiou os companheiros e evitou a derrota de Portugal para a muito melhor Seleção Espanhola com seus três gols e a concentração de gelo polar que conseguiu ter na cobrança de uma falta que, claro, ele mesmo sofrera. Era, como todos já vimos todos algumas vezes, daquelas certezas que moldavam o inevitável.

O resultado do jogo brasileiro, em si, não foi um desastre, mas foi preocupante ver todos os jogadores repetindo, depois do jogo, um discurso ensaiado com o mesmo teor: “o gol suíço foi irregular, mas não cabia ficar comentando arbitragem”.

Nunca fomos campões com um time “politicamente correto”, frio, sem ganas. Nem seremos, trocando o espírito de vira-latas pelo de pavão.

As coletividades humanas, sejam um time de futebol ou uma nação, precisam de referências e de solidariedade, em porções generosamente iguais.