Deputados do Partido Comunista da Rússia se posicionam contra guerra na Ucrânia

Conflito é uma "guerra imperialista" e traz "apenas destruição", afirma parte da esquerda russa

Atualizado em 2 de março de 2022 às 17:08
Reunião Russia Ucrânia
Sessão da Duma, a Câmara baixa do Parlamento russo – Serviço de imprensa da Duma estatal / AFP

Em uma comunidade na rede social russa “Vkontakte“, membros dos grupos de esquerda russos do Partido Comunista da Federação Russa (PCRF) e do Komsomol Leninista da Federação Russa defendem que “a invasão militar agressiva e catastrófica da Ucrânia seja interrompida”.

A carta é assinada por 12 deputados do Partido Comunista: 3 deles são congressistas na Duma, a Câmara baixa do Parlamento russo, e outros são integrantes do legislativo em outras esferas da política local. Além dos comunistas, quatro grupos de diferentes regiões russas do Komsomol Leninista da Federação Russa também subscrevem o documento.

Nas últimas eleições para a Duma, em setembro de 2021, o PCRF conquistou 57 assentos no Parlamento (18,9%). A Duma é composta por um total de 450 membros, dos quais 326 (49,8%) são da coligação Rússia Unida, alinhada ao presidente Vladimir Putin.

De acordo com o comunicado, o conflito na Ucrânia “traz apenas destruição, desastres econômicos e morte para os povos da Rússia, Ucrânia e as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk”, semeando “discórdia e ódio mútuo entre os trabalhadores da Rússia e da Ucrânia”.

“Somos contra o fascismo tanto na Ucrânia quanto na Rússia. E, portanto, não acreditamos na retórica de que o regime anticomunista e antidemocrático raivoso de [Vladimir] Putin pode libertar o povo da Ucrânia das gangues nazistas. Em vez disso, ele estará pronto para substituir os fascistas ‘estrangeiros’ pelos ‘seus próprios’. Defendendo o direito legítimo dos povos à autodeterminação (incluindo o povo de Donbass), estamos convencidos de que a verdadeira autodeterminação não pode ser alcançada através de uma guerra imperialista”, afirma o comunicado.

A nota ainda faz um apelo ao Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa para que se oponha à guerra, que estaria “levando a classe trabalhadora de ambos os países ao abismo” e “exija que o processo de solução pacífica seja iniciado imediatamente”.

Em 15 de fevereiro, a Duma votou a favor de um projeto de resolução sobre o reconhecimento das autodenominadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia. 351 deputados apoiaram a resolução, 16 pessoas se opuseram e uma se absteve.

Na noite de 24 de fevereiro, o presidente russo Vladimir Putin anunciou o início de uma “operação militar especial” para “desnazificar e desmilitarizar” a Ucrânia.

Alvo de críticas por ter votado à favor do reconhecimento de Donetsk e Lugansk, o deputado da Duma, Mikhail Matveev, que assinou a carta contra o conflito ucraniano, declarou que seu voto pelo reconhecimento foi “pela paz, para que a Rússia se torne um escudo, para que Donbass não seja bombardeado, e não para Kiev ser bombardeada”.

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Posição semelhante foi compartilhada pelo deputado do Partido Comunista Vyacheslav Markhaev, que expressou seu compromisso em reconhecer a independência de Donetsk e Lugansk, afirmando que a população das repúblicas precisava ser protegida “do extermínio completo”. Ao mesmo tempo, Markhaev declarou que “sob os auspícios de reconhecer as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, ocultamos planos para desencadear uma guerra em grande escala com nosso vizinho mais próximo”.

O Partido Comunista na Rússia é a segunda maior coligação russa, atrás do Rússia Unida, do presidente Vladimir Putin. No entanto, seu lugar enquanto oposição é bastante controverso. O partido já foi acusado de manter uma linha de contato direta com a administração presidencial, acatando a pressões do Kremlin para não promover manifestações em regiões do país e não oferecer resistência a projetos do Rússia Unida no Parlamento.

Por outro lado, as últimas eleições parlamentares do país assinalaram uma possibilidade de renovação da esquerda russa com a aparição de novos quadros, críticos ao governo, assumindo compromissos com pautas como direitos humanos, liberdade democrática, igualdade social e meio ambiente.

Por Serguei Monin

Edição: Thales Schmidt

Reportagem publicada originalmente no site Brasil de Fato

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