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Coordenadores do maior estudo sobre covid no Brasil questionam iniciativa similar do governo que custou R$ 200 mi

A coordenação do EPICOVID-19, o maior estudo epidemiológico sobre o coronavírus no Brasil, recebeu com surpresa a divulgação de iniciativa similar, com investimento público de R$ 200 milhões, denominada PREV COV, sem qualquer menção ao estudo pioneiro sobre o tema realizado em solo nacional.

Ressaltamos que nem o Ministério da Saúde, nem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, nem a Fundação Oswaldo Cruz, fizeram contato com a equipe científica do EPICOVID-19. Desde março de 2020, temos mostrado, tanto em manifestações públicas quanto por meio de estudos populacionais, que a condução de inquéritos sorológicos é essencial para o monitoramento da pandemia de coronavírus.

O estudo EPICOVID-19-RS, cuja primeira fase iniciou apenas duas semanas após a primeira morte por Covid-19 no Estado do Rio Grande do Sul, já concluiu 10 fases, entre abril de 2020 e abril de 2021, tendo entrevistado e testado 45 mil gaúchos. A pesquisa tem apoio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e é resultado de uma parceria entre 13 Universidades gaúchas. O financiamento foi obtido junto à Unimed Porto Alegre, Instituto Cultural Floresta, Instituto Serrapilheira, Banrisul e Todos pela Saúde. O custo total das 10 fases do projeto foi de 5 milhões de reais. Os resultados das primeiras fases do projeto foram publicados na revista científica Nature Medicine. O artigo científico analisando os resultados das fases 1-8 foi recentemente aceito para publicação no American Journal of Public Health. Outra publicação, descrevendo os resultados das fases 9-10 está em preparação. Todos os resultados foram divulgados à mídia, em coletivas de imprensa em parceria com o Governo do Estado, dias após a conclusão da coleta de dados.

O EPICOVID-19-BR concluiu 3 fases entre maio e junho de 2020, mediante financiamento do Ministério da Saúde. Em julho de 2020, sem qualquer contato prévio com a equipe de pesquisa, o ex-Ministro Pazuello informou a mídia que o financiamento para o EPICOVID-19 não seria mantido, sem apresentar qualquer razão técnica para a decisão. Importante destacar que o Ministério da Saúde, na coletiva de imprensa de divulgação dos resultados da pesquisa, censurou o slide que apresentava o maior risco de infecção por coronavírus entre os indígenas.

No segundo semestre, a quarta fase do EPICOVID-19-BR foi conduzida, com financiamento do Todos pela Saúde. Já em 2021, foi realizada a quinta fase da pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. No total, foram entrevistados e testados 245 mil brasileiros. O custo total das cinco fases do projeto foi de 40 milhões de reais, sendo apenas 12 milhões do orçamento do Ministério da Saúde. O estudo já teve seus resultados publicados nas revistas científicas Lancet Global Health, Revista Panamericana de Salud Publica, Vaccine, entre outras. Assim como no estudo gaúcho, os dados foram divulgados à mídia dias após a conclusão de cada fase da pesquisa.

Lamentamos que, por questões políticas, a apresentação da relevante proposta de realização do PREV COV tenha deixado de reconhecer os esforços realizados por centenas de pesquisadores brasileiros, que não descobriram somente em maio de 2021 que estudos epidemiológicos são essenciais para o controle da pandemia de coronavírus no Brasil. Aliás, tivesse ouvido a ciência desde o começo da pandemia, o Ministério da Saúde poderia ter salvado a vida de milhares de brasileiros que morreram em consequência da resposta desastrosa do Brasil à pandemia de coronavírus.

Diario do Centro do Mundo

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