Crescimento de Bolsonaro está vindo do abandono dos outros candidatos da direita. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 4 de outubro de 2018 às 10:15
Jair Bolsonaro. Foto: APU GOMES/AFP

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor de ciência política na UnB

Bolsonaro ainda deve crescer mais um pouco até o domingo. Chegará perto dos 40%. Sua diferença em relação a Haddad dificilmente será inferior a dez pontos percentuais. Ainda assim, é importante não se desesperar. Ele não é o favorito para o segundo turno.

Todos nós erramos quando atribuímos à facada o fato dele estar furando o próprio teto. A facada criou uma proteção em torno dele. Mas o crescimento está vindo é do abandono dos outros candidatos da direita por seu operadores e apoiadores políticos, algo que começou de forma envergonhada e agora é aberto.

E junto, claro, a direita que não se quer fascista vai abandonando suas veleidades democráticas. O discurso dos “dois extremos” não é nem auto-engano; é uma desculpa pro forma, dada sem qualquer convicção, ritualisticamente. Se faltava alguma prova, não falta mais: não existe direita democrática no Brasil. Nem liberal (politicamente) ela é.

Cabe à esquerda a missão de, sozinha, defender não só a democracia quanto os direitos e liberdades comumente associados ao liberalismo.

A tendência, assim, é que Bolsonaro alcance, no primeiro turno, uma votação próxima do seu (novo, alargado) teto. Eles estão jogando tudo no primeiro turno porque sabem que o segundo é bem mais difícil para eles. Há um pouco mais de debate, chances maiores de combater a suja campanha de desinformação. O Bozo não vai poder continuar se escondendo.

​É preciso reagir já para impedir a vitória do fascismo no primeiro turno. Está claro que seu adversário será Haddad; este quadro está mais do que consolidado. Não há nenhum sentido em centrar forças para mudar votos no nosso campo, nem mesmo de eleitores dos outros candidatos da direita. Eu mesmo voto em Boulos, por acreditar que é preciso marcar apoio ao projeto que ele representa, mas sei bem que meu voto significa um voto para ter Haddad no segundo turno. (Aliás, a bem da verdade, é preciso dizer que a inflexão antipetista da campanha de Ciro Gomes prestou um grande desserviço à democracia. Mas são águas passadas; tomara que Ciro tenha bastante voto, porque seu eleitor tenderá a ficar com Haddad, assim como boa parte dos que resistem com Marina e mesmo com Alckmin.)

Não é hora de desânimo, nem de jogar a toalha. Temos toda a possibilidade de ganhar essa batalha. Que é isso: uma batalha de muitas que virão para extirpar o fascismo e retomar a construção de uma sociedade menos injusta e menos violenta. Ganhá-la é importante para nos colocar em situação de travar as próximas – começando pela batalha de garantir o respeito ao resultado da eleição.

Isso é muito, muito mais importante do que qualquer mágoa que nos separe, de qualquer crítica, por mais justa que seja, que tenhamos a fazer uns aos outros. A unidade antifascista é a prioridade.