Crise resulta de inabilidade política de Bolsonaro, diz Bebianno. Por Kennedy Alencar

Atualizado em 16 de outubro de 2019 às 22:29
Jair Bolsonaro. Foto: AFP

PUBLICADO NO BLOG DO JORNALISTA KENNEDY ALENCAR

O ex-ministro Gustavo Bebbiano diz que a crise de governabilidade e a briga com o PSL são “resultado da inabilidade política do próprio presidente da República”. Ele se afirma que se “preocupa” com a possibilidade de Jair Bolsonaro não terminar o mandato por criar “tantas idiossincrasias, tantos conflitos, tantos atritos”.

Bebbiano foi um dos principais generais da eleição de Bolsonaro. Presidiu o PSL durante a campanha de 2018 e chefiou por menos de dois meses a Secretaria Geral da Presidência _foi demitido em fevereiro com o início das suspeitas de candidaturas laranjas no PSL.

Em entrevista ao “Jornal da CBN – 2ª Edição”, ele diz que não houve esquema “em nível nacional”, mas admite que pode ter havido casos “pontuais” e “locais” de candidaturas laranjas. Afirma que PT e MDB receberam cerca de meio bilhão de reais em 2018. O PSL não teria “matéria-prima” para um esquema nacional por ter ficado com apenas R$ 9 milhões do fundo partidário, argumenta o ex-ministro.

Bebbiano afirma que Bolsonaro mudou quando assumiu o poder. Na campanha, o atual presidente “se demonstrava uma pessoa humilde, muito cordata”. “Essa postura mais agressiva, mais radical, que é muito estimulado pelos filhos, foi uma coisa que passou à margem da campanha.”

Ele responsabiliza dois filhos do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro, por uma estratégia de governar gerando conflitos. Afirma que Flávio Bolsonaro seria “mais preparado”, mas, “infelizmente, ele tá envolvido em toda essa questão [caso Queiroz], que merecia um esclarecimento maior”.

Bebbiano considera “nociva” a influência que o escritor de extrema-direita Olavo de Carvalho tem sobre o presidente. Atribui isso a Carlos e Eduardo Bolsonaro, que fariam a ponte entre Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro.

Na sua opinião, Eduardo Bolsonaro “não tem condições de figurar como embaixador do Brasil, muito menos em Washington”.

Classifica Carlos Bolsonaro como “o maior isentão de todos”. Alfineta o filho mais novo do presidente: “Ficar pela internet ofendendo os outros e conduzindo mílicias virtuais é muito fácil”.

Indagado se sentia arrependimento por ter articulado o acordo entre Bolsonaro e o PSL em 2018, ele responde que não, se levar em conta que era preciso derrotar o PT. Mas ressalva: “E me arrependo na medida em que vejo que o presidente assumiu o seu papel e passou a ter uma conduta bastante diferente da que ele tinha anteriormente”.

Segundo Bebbiano, o maior erro de Bolsonaro foi montar “um entorno” com pessoas sem preparo e extremistas de direita, além de ter se afastado do “núcleo militar”. “Ele escolheu mal aqueles que compõem o seu núcleo duro. O presidente é assessorado por pessoas inexperientes”, diz.