Datafolha mostra que a posição de Boulos não é boa. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 1 de setembro de 2023 às 18:37
Guilherme Boulos falando em microfone e gesticulando
Guilherme Boulos (PSOL-SP). Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Pesquisa Datafolha coloca Boulos na dianteira da corrida pela prefeitura do maior município do país, 8 pontos à frente de Nunes.

Mais de um ano antes das eleições, o que isso quer dizer?

Antes de mais nada, é preciso lembrar que faz tempo que as pesquisas de intenção de voto têm se revelado bem pouco acuradas. Em geral, subdimensionando a votação da direita.

A cada nova eleição, as empresas se mostram surpresas com os erros, seus executivos escrevem textos justificando – e imediatamente esquecem, voltando ao business as usual. Como o Datafolha faz agora.

Jornalistas e agentes políticos embarcam na onda – exceto quando os números parecem excessivamente desfavoráveis. As pesquisas, mesmo desacertadas, mesmo num momento tão adiantado à eleição, contribuem para minorar a incerteza, para dar uma (falsa) sensação de que o cenário está claro.

Feitas as ressalvas, é possível olhar os números do Datafolha. Por eles, apesar da dianteira, a posição de Boulos não é boa.

Boulos foi candidato a presidente em 2018. Chegou ao segundo turno nas eleições municipais de 2020. Elegeu-se deputado federal no ano passado, com enorme votação e uma campanha de grande impacto midiático.

Ainda assim, está com 32 pontos percentuais, contra 24 de Ricardo Nunes – um prefeito pouco conhecido, sem carisma, que sempre foi uma figura política de segunda linha e chegou ao cargo por acidente.

Em terceiro, está Tabata Amaral, com 11%, numa demonstração de que marketing agressivo e bom-mocismo ainda rendem frutos.

Kim Kataguiri, eterno factoide da mídia, cuja candidatura não é nem apoiada por seu partido, mas ainda assim foi incluído, vem logo atrás, com 8% das respostas. Está empatado com Tabata, no limite da margem de erro. É campeão de rejeição (os outros três estão empatados em segundo lugar), mas o percentual surpreendente é um prêmio a uma carreira política irresponsável e sem caráter.

Ainda no campo da extrema-direita, aparece Vinicius Poit, do Novo, com 2% das intenções de voto.

Os possíveis candidatos à Prefeitura de SP: Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União Brasil) e Vinicius Poit (Novo)

Nunes tem se mostrado um esperto articulador político. Tem a máquina prefeitura a seu favor. Corteja abertamente Jair e Tarcísio, para ser o candidato oficial do bolsonarismo. Mas preserva o apoio de Simone Tebet, estrela de seu partido, o MDB, que lhe oferece um verniz de “democrata”. Tenta se apropriar de pautas históricas da esquerda, como o passe livre. E ainda ensaia compor uma chapa com Marta Suplicy – fala-se até em filiá-la ao PL!

Com isso, ele desafiaria as leis da física e estaria em todos os lugares ao mesmo tempo.

Não se sabe quantos dos eleitores de Tabata, pretensamente uma candidata do campo da esquerda, Boulos seria capaz de herdar. Já os votos de Nunes e Poit migram naturalmente para Nunes.

Boulos enfrenta a má vontade ostensiva de parte do PT – Jilmar Tatto nem esconde.

Leio no jornal que seu entorno diz que “ele precisa trabalhar para amenizar a imagem de radical que os anos de militância como líder do MTST na capital lhe deram”.

É a conversa de sempre. Não se trata de fazer enfrentamento político, mas de “amenizar” – agradar a Faria Lima, os donos das viações, as empreiteiras, as igrejas. Boulos já deu passos nessa direção, mas sem a desenvoltura desejada.

Vale a pena olhar para o Rio de Janeiro. Marcelo Freixo seguiu essa cartilha à risca. Terminou desmoralizado – e derrotado já no primeiro turno.

Publicado originalmente no Facebook do autor

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link