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Datafolha sobre posição política do brasileiro traz excelentes notícias

Bandeiras do presidente Lula e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Por Miguel do Rosário

Os prognósticos de que a esquerda “morreu”, como diria Mark Twain, parecem um pouco exagerados.

Uma nova pesquisa Datafolha sobre o posicionamento político dos brasileiros mostra que ela está mais forte que nunca.

Talvez não seja a esquerda dos sonhos dos acadêmicos da USP, nem dos influencers marxistas do youtube, mas o fato é que, segundo o Datafolha, 41% dos brasileiros se identificam como próximos ao “petismo”, o que seria, na gramática política nacional, o equivalente a esquerda.

Esse percentual, aliás, tem se mantido incrivelmente estável há pelo menos um ano e meio, ou desde a primeira pesquisa Datafolha sobre isso, em dezembro de 2022.

Já o outro lado, o bolsonarismo, tem 31% do eleitorado, segundo a mesma pesquisa, também se mantendo notavelmente estável ao longo do período.

Datafolha questionou eleitores sobre seu posicionamento político. Foto: Reprodução

Entretanto, os dados realmente interessantes do Datafolha estão em seu relatório, que destrinchamos para examinar as diferenças políticas nos mais diferentes estratos da sociedade brasileira.

Um número que chama atenção, por exemplo, é a vantagem expressiva da esquerda entre o eleitorado feminimo. Este é um fenômeno, a propósito, internacional, ou pelo menos na maioria das democracias avançadas. Nos EUA, por exemplo, Trump jamais teria chance de vencer as eleições presidenciais deste ano se dependesse das mulheres.

Segundo o Datafolha, 45% das mulheres brasileiras se identificam como petistas, quase 15 pontos à frente das 30% que disseram estar mais próximas do bolsonarismo. Considerando que as mulheres correspondem, segundo o mesmo Datafolha, a 52% do eleitorado, essa vantagem da esquerda entre o eleitorado feminimo, se bem explorada, poderá representar um trunfo muito importante para isolar a extrema direita nas eleições municipais.

Mas Lula também ganha entre homens: ainda segundo o Datafolha, o petismo tem 37% da preferência entre homens, contra 33% para o bolsonarismo.

Divisão entre petistas e bolsonaristas por gênero. Foto: Reprodução

Quando analisamos o eleitorado por faixa etária, duas características do eleitorado ficam evidentes: o petismo recuperou muito prestígio entre os mais jovens, ao passo que o bolsonarismo parece ter saído de moda. Segundo a pesquisa, entre jovens até 24 anos, 38% se identificam como petistas ao passo que apenas 24% preferem se associar à direita.

Na faixa seguinte, de jovens entre 25 e 34 anos, mais expressiva em termos populacionais, o PT ainda é forte, com 38% da preferência, contra 32% para o bolsonarismo.

A força do bolsonarismo concentra-se sobretudo na faixa de eleitores com idade entre 35 e 44 anos, embora até mesmo aí haja empate técnico com o petismo: 36% à direita X 35% à esquerda.

Curiosamente, porém, o petismo volta a disparar, com vigor incrível, entre as pessoas com masi de 45 anos. A propósito, a faixa de brasileiros com mais de 45 anos corresponde a 42% do eleitorado (sendo 24% para a faixa com 45 a 59% e 20% pra quem mais de 60 anos)!

Divisão entre petistas e bolsonaristas por idade. Foto: Reprodução

É na divisão do eleitorado por renda, todavia, que a força do bolsonarismo pode ser vista com mais clareza. A direita lidera com muita força entre eleitores com renda familiar de 5 a 10 salários: entre estes, 42% se identificam como bolsonaristas, contra 31% como petistas. Esse estrato corresponde a somente 6% do eleitorado, mas tem uma capacidade de mobilização muito grande.

O bolsonarismo também é forte na faixa de renda entre 2 a 5 salários, registrando 36% da preferência do eleitorado, contra 35% para o petismo. Esse estrato corresponde a 31% do eleitorado.

O grande trunfo do petismo ainda é a sua incrível força entre as massas. Segundo o Datafolha, 47% dos eleitores com renda familiar até 2 salários se identificam mais como petistas, contra 28% como bolsonaristas.

Vale ainda notar que o estrato mais rico, com renda familiar superior a 10 salários mínimos, e que representa 2% do total de eleitores, se distanciou do bolsonarismo; Lula, por sua vez, vem recuperando a simpatia de setores da classe média superior, e já tem 31% da preferência.

Divisão entre petistas e bolsonaristas por renda. Foto: Reprodução

Olhando para os estratos por grau de instrução, a força do petismo ainda é muito elevada, 53 de preferência%, entre os eleitores com formação limitada ao ensino fundamental. Nos estratos mais instruídos, Lula se mantém em vantagem, porém fica mais próximo do bolsonarismo, que marca 33% de preferência tanto entre eleitores com ensino médio, quanto entre eleitores com ensino superior.

Tabela com os posicionamentos político dos eleitores em diferentes segmentos. Foto: Reprodução

Conclusão

Poucos países no mundo possuem um partido de esquerda, ou um conjunto de partidos de esquerda, tão solidamente ancorados na cultura política nacional.

Entretanto, o que é mais promissor, na pesquisa, é a força do petismo entre os jovens, mulheres e famílias de baixa renda, porque são os três estratos mais dinâmicos da sociedade brasileira, porque são os três que tem mais necessidade de um governo progressista. O jovem precisa de um governo desenvolvimentista, preocupado em gerar empregos e oferecer educação de qualidade. A mulher, por sua vez, prefere administrações progressistas, entre outras razões, por seu repúdio à cultura de violência que é característica da direita, haja vista a obssessão do bolsonarismo em armar a população. Também é a mulher que costuma, no Brasil, ter maior preocupação com a educação, nutrição e saúde dos filhos, o que também a torna mais crítica e atenta às políticas públicas nessas áreas.

Já as famílias de baixa renda, elas precisam de um governo progressista que lhes ofereça crédito mais barato para adquirir a casa própria, que lhes garanta energia e alimentos a baixo custo, assistência social quando necessário, e oferta de empregos, cursos e oportunidades que lhes permitam subir na escada social. É preciso não esquecer, porém, que a ambição da família de baixa renda é atingir a classe média. E, se tudo der certo, se o Brasil crescer, milhões de brasileiros subirão um degrauzinho da escala e terão acesso aos confortos comuns da classe média: é necessário, portanto, desenvolver, desde já, as estratégias de desenvolvimento e comunicação para atender a um novo conjunto de demandas, mais sofisticadas, que irão ser exigidas.

Eu dou uma ideia: metrôs e vlts nas grandes e médias cidades, e trens de alta velocidade conectando as capitais.

Publicado originalmente no Cafezinho

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Miguel do Rosario

Jornalista e editor do site "O Cafezinho"

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