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De cabeça erguida, como mostra Veja, Lula rejeitará semiaberto defendido pela Lava Jato: entenda as razões. Por Joaquim de Carvalho

A defesa de Lula deve dizer à juíza Carolina Lebbos, responsável pela execução penal do ex-presidente, que ele considera um direito do preso a progressão de regime para o semiaberto e, sendo assim, prefere não solicitá-lo.

A razão para isso é que Lula entende que sua condenação como ilegítima, principalmente por ter sido imposta por um juiz cuja parcialidade está em discussão na Segunda Tuma do Supremo Tribunal Federal.

A manifestação de Lula deve ser protocolada até o final da tarde desta sexta-feira, último dia do prazo processual.

Com isso, será criará uma situação jurídica inédita. Carolina Lebbos poderá impor sua decisão, o que levaria à hipótese absurda de Lula ser retirado à força da Superintendência da Polícia Federal, onde se encontra preso desde abril do ano passado.

Mas isso, naturalmente, não ocorreria de imediato, uma vez que a defesa do ex-presidente recorreria, com o argumento de que, sendo um direito, ele pode exercê-lo ou não. O

caso poderia chegar até o STF, pois o Tribunal Regional Eleitoral da 4a. Região já sinalizou que considera a saída de Lula uma obrigação.

O presidente do TRF-4, Victor Laus, se manifestou através de uma rádio de Porto Alegre, em que não deu alternativa ao ex-presidente. Ou sai, ou sai. O argumento que ele utilizou não foi jurídico, mas o de uma briga de vizinho. “Ele sabe que não é bem-vindo lá”. disse.

Era uma referência a alguns moradores do bairro de Santa Cândida que querem que o ex-presidente deixe seu cárcere na PF, uma vez alguns moradores se incomodam com a presença da Vigília Lula Livre, apesar desta respeitar horários.

A Vigília aluga pelo menos três imóveis no bairro, inclusive o terreno onde são realizados todos os dias os já tradicionais “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”, Presidente Lula.

Ao mesmo tempo que se manifesta em desacordo com a progressão de regime solicitada pelo Ministério Público Federal — iniciativa que também seria inédita —, a defesa de Lula acompanha à distância o julgamento no Supremo Tribunal Federal da ação direta de constitucionalidade (ADC) sobre a prisão em segunda instância.

Os advogados do ex-presidente não fizeram nenhuma solicitação no sentido — até porque esta é uma ação que discute constitucionalidade de uma lei, não o pedido específico de um pessoa. Porém Lula seria alcançado por ela.

O julgamento, como tudo indica, terminará na quinta-feira da semana que vem.

Até o jornal O Globo admite que o resultado será favorável ao entendimento de que é constitucional o artigo 283 do Código de Processo Penal  — que, em sintonia com o artigo 5o da Constituição, determina que sentenças só poderão começar a ser cumpridas depois do trânsito em julgado das sentenças.

Nesse caso, Lula será solto.  Se o julgamento terminar na quinta-feira e houver publicação do resultado no mesmo dia, na sexta-feira os advogados de Lula já poderão requerer a sua liberdade.

No entanto, para os advogados, a prioridade é o habeas corpus em julgamento na Segunda Turma do STF, em que é solicitada a anulação da sentença com base na parcialidade de Moro. Este julgamento começou em dezembro, com os votos contrários de Edson Fachin e de Cármem Lúcia.

Outros dois ministros já anteciparam que devem votar a favor — Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Celso de Mello ainda não se manifestou, mas, em pelo menos um caso parecido, envolvendo outro réu, mas o mesmo Sergio Moro, ele votou a favor da anulação da sentença.

É esta ação que devolve a Lula os direitos políticos em sua plenitude, o que poderá dar a ele condições de disputar eleições.

Como disse ao DCM o jurista Lenio Streck nesta sexta-feira, é difícil arriscar um prognóstico sobre julgamento no STF, mas há na corte um ambiente favorável ao resgate do estado democrático de direito.

Fora da corte, os ares também são outros: pela primeira vez em muitos anos, a revista Veja publicou uma capa que mostra Lula com a cabeça erguida e o devolveu ao noticiário político, de onde ele só saiu pela perseguição realizada pela Lava Jato com apoio da mesma mídia.

 

Joaquim de Carvalho

Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com

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