Na reportagem que Veja fez sobre o caso Marielle, faltou o básico: ouvir o porteiro. Ou pelo menos revelar quem é. Não seria tão difícil. Bastava um repórter ir à portaria ou tentar conversar com pessoas que trabalham lá. Moradores também poderiam ajudar.
Em vez disso, procura defender Bolsonaro.
“Foi nesse enredo tragicamente rocambolesco que o nome do presidente acabou envolvido. Destemperos à parte, Bolsonaro, que já sofreu uma tentativa de assassinato, agora tem razão em reclamar de que atentaram contra sua honra com base em um depoimento fajuto. Pode-se não gostar dele por sua visão simplória e paranoica de mundo, por seu gosto por ditaduras e por sua incapacidade de administrar a nação em paz, entre outros tantos motivos. A despeito dessas críticas, justas ou não, ninguém pode ser vítima de uma insinuação de tamanha gravidade sem provas — muito menos a maior autoridade do país.
A revista não poupa Sergio Moro, ao considerar que sua ação foi indevida. “Na defesa do presidente, o ministro da Justiça, Sergio Moro, destacou-se entre os mais afoitos, ao enviar ofício à Procuradoria-Geral da União no qual pedia que instâncias superiores ouvissem a testemunha que implicara Bolsonaro. Ao mais uma vez extrapolar seu papel, Moro recebeu críticas merecidas. ‘Ele usa seu cargo para atuar como advogado de Bolsonaro’, afirma o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior.
Certo.
Mas a pergunta que continua sem resposta é: Por que o porteiro registrou na portaria que Élcio de Queiroz entrou no domínio para ir à casa 58, de Bolsonaro?
Imaginar que era uma armação não faz sentido: o registro foi feito no dia do crime, 14 de março do ano passado, sem que o porteiro, em princípio, soubesse que haveria um assassinato naquele dia.
O porteiro continua um personagem sem rosto e sem nome, mas, a julgar pela Veja, um grande vilão.
Se é, precisa dizer por que. E dar a ele chance de defesa.
Fazer insinuações contra um presidente da república é tão grave quanto ignorar que o registro da portaria é uma pista importante a ser perseguida.
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