Democratas brasileiros têm de parar de reagir a Bolsonaro como pombas. Por Kennedy Alencar

Atualizado em 27 de fevereiro de 2020 às 21:34
O presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução/TV Globo

Publicado originalmente no blog do Kennedy

Por Kennedy Alencar

Duas deputadas brasileiras, Joênia Wapichana (Rede-RR) e Erica Kokay (PT-DF), visitaram o Congresso americano nesta semana a fim de relatar danos aos índios e outras minorias.

Entre outros assuntos, Joênia veio discutir a criação de uma frente parlamentar indígena das Américas. Kokay gostaria de ampliar a frente, transformando-a numa reunião de mulheres de todo o planeta. Em julho, haverá um congresso em Brasília para tratar das duas possíveis frentes.

Joênia disse que as ameaças do presidente Jair Bolsonaro à população indígena no Brasil se transformaram em casos concretos. “O autoritarismo do presidente já está dizimando populações.”

Kokay declarou que elas também fizeram outros relatos às congressistas americanas Deb Halland (Democrata do Novo México), parlamentar de origem indígena, e Ilhan Omar (Democrata de Minnesota), parlamentar somali-americana. Segundo a petista, foram abordadas “a violência contra as mulheres no Brasil e também contra jovens negros, vítimas da truculência policial”.

Joênia e Kokay discutiram com parlamentares americanas a atitude Bolsonaro de divulgar um vídeo contra o Congresso brasileiro, convocando pessoas para uma manifestação golpista em 15 de março. A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) também participou da visita das parlamentares brasileiras a Washington.

Bolsonaro já deixou faz tempo de ser uma ameaça à democracia. Ele a dinamita Brasil. E as reações ao seu autoritarismo são absolutamente fracas.

O ministro do STF Celso de Mello disse que, se Bolsonaro divulgou o vídeo, não está à altura de ser presidente. Ora, não está à altura faz tempo. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), preferiram não entrar em rota de colisão com o presidente.

É ruim que os democratas não sejam tão incisivos na defesa da democracia quanto os autoritários são incisivos para solapar a democracia. Bolsonaro mente no vídeo. A milícia digital que o apoia atacou uma jornalista séria como Vera Magalhães, que revelou que o presidente divulgava pessoalmente a mensagem golpista. Os ataques à jornalista são inaceitáveis e criminosos.

Bolsonaro e essa milícia digital têm predileção pelos ataques às mulheres. São misóginos. É sério o que está acontecendo no Brasil. Os democratas têm de parar de reagir como pombas. Já passou da hora de reagir, aliás.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros só agora estão entendendo que há uma ameaça à democracia no Brasil. Deveriam ter acompanhado mais os comentários na “Política Como Ela É” feitos desde antes da eleição.