“Devemos ser amigáveis com todos, mas não venerar ninguém”: Charlotte Brontë sobre a vida, a solidão e a condição feminina. Por Camila Nogueira

Atualizado em 11 de julho de 2017 às 8:03
Brontë
Brontë

Charlotte Brontë (1816 – 1855) foi uma das maiores escritoras da Era Vitoriana, assim como suas irmãs mais novas, Emily e Anne. As frases a seguir foram retiradas de Jane Eyre, Villette e Shirley, três de seus romances.

Miss Brontë, o que devemos estabelecer como nosso objetivo de vida?

O objetivo de vida de uma pessoa deve ser cuidar de si mesma.

Hmmm…

Quanto mais solitária, quanto mais sem amigos, quanto mais desamparada estiver, mais deve se respeitar.

Mas a solidão não é algo terrível?

O risco, a solidão e um futuro incerto não são males opressivos, desde que tenhamos uma boa saúde e sejamos inteligentes; especialmente, desde que a Liberdade nos empreste as suas asas e a Esperança nos guie através de sua estrela.

Qual a sua opinião sobre a vida?

Eu acredito, em meu coração, que devemos valorizar a vida e aproveitá-la enquanto a retivermos. A existência não foi feita para ser aquela coisa inútil, branda, pálida e lenta que se torna para muitos.

Como devemos nos relacionar com aqueles com quem convivemos?

Devemos ser amigáveis com todos, mas não venerar ninguém.

É recomendável que sejamos amigáveis com aqueles que não o são conosco?

Seja boa com aqueles que são bons para você. Isso é tudo que sempre desejei para mim. Se as pessoas fossem sempre boas e obedientes com aqueles que são perversos e injustos, os maus teriam tudo a seu modo. Nunca sentiriam medo e assim nunca mudariam, mas se tornariam piores.

E quanto à condição feminina?

Em geral, supõe-se que as mulheres devem ser calmas e plácidas, porém nós sentimos o mesmo que os homens. Precisamos de exercício para nossas faculdades mentais e campo para nossos esforços. Sofremos com restrições muito rígidas e com a estagnação absoluta – tanto quanto os homens sofreriam na mesma situação. Dizer que devemos nos limitar a fazer pudins, tricotar meias, tocar piano e bordar bolsas é uma estreiteza de mente.

A senhorita pensa que os homens não são capazes de compreender inteira e adequadamente as mulheres?

Se os homens pudessem nos enxergar como de fato somos, eles ficariam surpresos; mas mesmo os homens mais inteligentes e perspicazes tendem a nutrir uma espécie de ilusão a respeito das mulheres: para o bem ou para o mal, eles não nos compreendem – aquilo que entendem como uma boa mulher é um ser estranho, meio boneca, meio anjo; e o que veem como uma má mulher é quase sempre um demônio.

Algo a acrescentar?

Sempre prefira ser feliz a manter o amor-próprio. A vida me parece muito curta para que a gastemos nutrindo animosidades ou recordando erros.