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A direita está no poder, mas o tema do debate é o projeto (e as alternativas) de esquerda. Por Luis Felipe Miguel

O palanque e nomes são parte da discussão, não o todo.

PUBLICADO NO FACEBOOK DE LUIS FELIPE MIGUEL

Três vezes esquerda na Folha

Na edição de anteontem da Folha, Pablo Ortellado apresentou a ideia de que esquerda e direita no Brasil são “parecidas demais”. O texto divulga uma versão muitíssimo diluída da crítica da esquerda à adesão dos governos petistas a políticas pró-mercado. Tal como em parte dessa crítica, o julgamento é pouco matizado e unilateral. Ao contrário do ocorre nela, porém, a alternativa nunca é explicitada: são as “mudanças [de] que tanto precisamos”. Com isso, o foco do artigo fica numa defesa quase marinista da busca de uma nova via. No meio do caminho, a resistência ao desmonte dos direitos, fruto do golpe, é ridicularizada. Quaisquer que tenham sido as intenções do autor, o texto de Ortellado trabalha contra o pouco de resistência que se constrói no Brasil.

Hoje, Celso Rocha de Barros traz um artigo em que diz que a esquerda deve projetar um caminho para 2018 sem a candidatura de Lula. Num boa tirada, cita texto em que se diz que “a perda de Lula para a esquerda é como a perda de Neymar para a seleção brasileira às vésperas do jogo contra a Alemanha” – e comenta, em seguida, que isso pode ser verdade, mas a direita brasileira está longe de ser a Alemanha de 2014. Sua tese, em suma, é que é possível vencer sem Lula, trata-se apenas de escolher o nome certo.

Barros simplesmente aceita que a perseguição judicial contra Lula terá êxito e não acha importante ou produtivo resistir a ela. Páginas adiante, em entrevista, Fernando Haddad adota posição diferente. Ele é cauteloso e evita as armadilhas das perguntas. Faz defesa enfática da candidatura de Lula, não especula sobre plano B e diz que “o partido faz bem em confiar na reforma da sentença”. (No resto da entrevista, fala quase nada e, quando fala, é para reforçar a lenda de que o PSDB representava a modernidade conservadora na política brasileira.)

Mesmo o texto de Ortellado, que tem um registro diferente, assinala que o objetivo de sua nova via é permitir “controlar os políticos no jogo da política real e não no da ilusão que nos vendem para nos distrair”. Barros e Haddad, por sua vez, apostam integralmente no processo eleitoral. O ex-prefeito, quando ressalta a oposição ao lawfare contra Lula, coloca a questão em termos de “confiança” no judiciário, nunca de mobilização popular.

De um jeito ou de outro, permanecemos sempre aprisionados na jaula de ferro da política institucional.

Diario do Centro do Mundo

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