Do STF para Bolsonaro: não volte. Por Denise de Assis

Atualizado em 8 de março de 2023 às 22:11
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e escultura “A Justiça”. Foto: Ricardo Moraes | Gervásio Baptista

Publicado originalmente no “Jornalistas pela Democracia”

Por Denise de Assis

Entre anúncios erráticos de um retorno sempre adiado, que tentaria transformar num ato político, Jair Bolsonaro recebeu nos últimos dias, via interlocutores políticos, o seguinte recado de ministros do STF: se voltar ao Brasil, terá que arcar com as consequências policiais e judiciais. Para bom entendedor — e isso Bolsonaro é — elas vão passar, no mínimo, por depoimentos à PF, mas podem abranger operações de busca e apreensão em sua residência e até prisão. Com base nesse relato, alguns aliados do ex-presidente arriscam dizer que ele não voltará ao Brasil tão cedo, se é que voltará, e respiram aliviados. Para muitos deles, o retorno do ex-chefe, com a obrigação de voltar a lhe bater continência, seria um grande constrangimento.

O recado do STF foi enviado antes das últimas descobertas do caso Arábia Saudita, mas a situação de Bolsonaro só fez piorar de lá para cá. Alguém imagina, por exemplo, que a Polícia Federal — que já está no encalço do almirante Bento Albuquerque para depoimento — não irá tentar localizar o segundo kit de presentes da Arábia Saudita depois dos documentos mostrando que o então presidente os recebeu pessoalmente no Alvorada? Ou foram num avião da FAB para Orlando com seu feliz proprietário ou ficaram na mudança dos Bolsonaro para um condomínio em Brasília — e lá estão na nova casa.

Esse caso, agora o mais escandaloso, é apenas um dos episódios que envolvem Bolsonaro em irregularidades e desgastam ainda mais a sua imagem — e que se juntam aos inquéritos que apuram sua participação dos atos golpistas e o abuso de poder na eleição, que caminha para torná-lo inelegível.

Caixa de joias entregue a Bolsonaro em novembro de 2022. Foto: Reprodução

A nova suspeita, porém, joga o ex-presidente num terreno mais pantanoso ainda do que aquele que pode torná-lo inelegível.  Ainda que levantamentos de rede de institutos como o Quaest mostrem que a história rocambolesca não serviu para abalar sua imagem em seus redutos digitais, nos meios políticos e fora da bolha bolsonarista o estrago é grande. Isso pode ser avaliado pela reação dos aliados bolsonaristas. Até agora, pouquíssimas vozes de levantaram em defesa do ex-presidente.

Não há argumentos para defender quem recebeu presentes indevidos e tentou recuperar, mediante expedientes duvidosos e não-republicanos, joias que representam uma verdadeira fortuna. Presente ou propina, é a questão que norteia a investigação. E será difícil ver aliados do quilate dos governadores de SP, Tarcísio de Freitas, e de Minas Gerais, Romeu Zema, recebendo e fazendo rapapés para Bolsonaro em sua volta ao Brasil. Até mesmo Valdemar Costa Neto e seu PL andam quietos — todos torcendo para que sua estrela maior não dê as caras tão cedo por aqui.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link