Donald Trump se torna primeiro ex-presidente americano a ser indiciado pela Justiça

Atualizado em 9 de junho de 2023 às 8:51
Ex-presidente Donald Trump. (Foto: Reprodução)

Por David Thomson

Retenção ilegal de segredos de Estado, obstrução da justiça e deturpação são algumas delas. Trump, que deve comparecer na próxima terça-feira ao tribunal federal de Miami, postou um vídeo em sua rede social minutos após a confirmação de seu indiciamento.

O ex-presidente alega que as cinco caixas de documentos secretos encontradas em sua residência pela polícia seriam apenas um pretexto para impedi-lo de se candidatar novamente à presidência do país. “Eu sou um homem inocente. Vamos provar isso mais uma vez. É uma farsa. Isso é interferência eleitoral. Eles estão tentando destruir uma reputação para ganhar uma eleição. Não podemos deixá-los”, disse.

Trump é acusado de ter guardado caixas inteiras de documentos, incluindo alguns classificados como “segredo de defesa”, após deixar a Presidência, em 2021, e de ter se recusado a devolvê-los, violando leis federais. O ex-presidente, que aparece bem à frente dos demais candidatos à indicação republicana, sempre se defendeu das acusações de peculato e se apresenta como vítima de uma “perseguição política”. “Nunca imaginei que seria possível algo assim acontecer com um ex-presidente dos Estados Unidos”, criticou ele na quinta-feira, evocando “um dia sombrio” para o país.

Desde a segunda-feira (5), ele já havia antecipado na sua rede, Truth Social, que uma acusação era iminente após meses de investigação, que culminou em uma operação de busca e apreensão na sua casa na Flórida em agosto de 2022.

“O corrupto governo Biden informou meus advogados que fui indiciado, aparentemente devido à farsa das caixas”, escreveu nesta quinta em sua plataforma. É a primeira vez no país que um chefe do Executivo, atual ou passado, enfrenta acusações federais.

11 mil documentos

Nos Estados Unidos, uma lei de 1978 obriga todos os presidentes americanos a enviar todos os seus e-mails, cartas e outros documentos de trabalho para o Arquivo Nacional. Outra lei, sobre espionagem, proíbe qualquer pessoa de guardar documentos classificados como sigilosos em locais não autorizados e inseguros.

Deixando a presidência para se instalar em sua luxuosa residência em Mar-a-Lago, Donald Trump, no entanto, levou caixas inteiras de arquivos. Em janeiro de 2022, após várias advertências, ele concordou em devolver 15 caixas, contendo mais de 200 documentos seccretos. Em uma carta, seus advogados garantiram que não havia outros.

Entretanto, após perícia, a Polícia Federal avaliou que ele não havia devolvido tudo e que ainda guardava muito em seu clube em Palm Beach. Agentes do FBI foram ao local em 8 de agosto e apreenderam cerca de 30 outras caixas, contendo 11 mil documentos – alguns dos quais muito confidenciais, sobre o Irã ou a China.

Líderes republicanos se unem

O histórico de Donald Trump pode parecer riscado, mas no seu campo, a estratégia parece funcionar a todo vapor. Em março, na primeira acusação judicial no caso da atriz pornô Stormy Daniels, Trump subiu ao topo das pesquisas de popularidade.

Stormy Daniels. (Foto: Reprodução)

Agora, todos os líderes republicanos se unem em torno dele, até mesmo seu principal rival nas primárias do partido. “Essa instrumentalização da Justiça federal é uma ameaça moral à nossa sociedade”, tuitou Ron DeSantis.

Nos estúdios da Fox News, seus apoiadores se sucedem para defendê-lo, como o pastor do Texas Robert Jefress, que afirma ter ligado para Trump para dizer a ele que milhares de cristãos estão orando por ele. O senador do Missouri Josh Hawley – ainda na Fox News – acusou diretamente Joe Biden de conspiração política.

“Se o presidente em exercício pode prender seus oponentes como Joe Biden está tentando fazer esta noite, não estamos mais em uma república. Joe Biden e seus amigos estão tentando eliminar seu principal adversário”, disse. “Isso nunca aconteceu na história dos Estados Unidos. Estamos entrando em uma zona perigosa, e é por causa de Joe Biden.”

Em novembro passado, um procurador especial foi nomeado para investigar de forma independente e evitar essas acusações de conspiração. Jack Smith também poderá indiciar Trump em breve em outro caso: seu papel no ataque ao Capitólio de Washington em 6 de janeiro de 2021.

Originalmente publicado em RFI

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