Dono de operadora de saúde que obrigou médicos a receitar cloroquina estava em jantar de empresários com Bolsonaro

Atualizado em 28 de abril de 2021 às 13:25
Cândido ao lado de seus dois filhos, presidente e vice do Hapvida, Jorge Pinheiro e Cândido Júnior.
Foto: Portal IN News

O jantar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com empresários em 7 de abril, dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 340 mil mortos por coronavírus, reuniu apenas gente fina, elegante e sincera.

Cinco empresas representadas no encontro, que ocorreu na mansão do bilionário ruralista Washington Cinel em São Paulo, estão devendo R$ 186,4 milhões à União.

Entre os 25 homens de negócios ali presentes estava o cearense Cândido Pinheiro Koren de Lima, dono da Hapvida, operadora de planos de saúde do Norte e Nordeste brasileiro.

Na última segunda-feira (26), a empresa foi multada pelo Ministério Público do Ceará (MP-CE) em R$ 468 mil por obrigar médicos a prescreverem cloroquina para pacientes com covid-19.

Em maio de 2020, a Hapvida anunciou que havia adquirido milhares de unidades do medicamento e passou a entregá-lo aos seus clientes gratuitamente.

Em entrevista à BBC Brasil, o médico Felipe Peixoto afirmou que a pressão da operadora de saúde acerca do remédio começou naquele mesmo período. Ele afirma que a empresa analisava prontuários de clientes com covid para avaliar se a cloroquina estava realmente sendo prescrita pelos profissionais de saúde.

Segundo reportagem do portal Marco Zero, a empresa enviou mensagem a uma equipe de Recife dizendo o seguinte: “Caro médico, a Hapvida está distribuindo gratuitamente a hidroxicloroquina para o tratamento do Covid-19 para seus usuários. […] Quando indicado, NÃO DEIXE DE PRESCREVER. O corpo clínico corporativo mantém-se atualizado constantemente sobre os melhores tratamentos disponíveis para seus usuários”.

“Eu não queria prescrever hidroxicloroquina a pacientes com a covid-19 porque não é um medicamento aconselhado por entidades de saúde. A pressão maior é para a prescrição da hidroxicloroquina. Queriam nos obrigar a prescrever”, diz outro médico demitido da Hapvida.

Uma cliente relatou ao MP-CE que recebeu de um médico da operadora a receita para o uso do antibiótico sem que ela tivesse feito teste para detectar o coronavírus.

A Hapvida dispõe de uma rede própria, formada por 40 hospitais, 184 clínicas e 41 prontos atendimentos. São aproximadamente 6,4 milhões de clientes Brasil afora. Desde 2018, a empresa tem crescido exponencialmente, comprando operadoras menores e expandindo sua presença no país.

Com uma fortuna estimada em US$ 3,7 bilhões, Cândido Pinheiro é o homem mais rico do Ceará, segundo lista da revista Forbes divulgada no início do mês. Sua riqueza mais do que dobrou durante a pandemia.

Assim como Bolsonaro, o empresário incluiu os filhos no negócio. Presidente e vice da Hapvida, Jorge Pinheiro e Cândido Júnior, respectivamente, possuem cada um R$ 8,56 bilhões e dividem a 2ª posição entre os mais ricos do Ceará e a 51ª colocação no ranking nacional.

Abraçado ao presidente da República, Pinheiro vai seguir usando seu poder para promover o “tratamento precoce” se não for impedido. A ação do MP-CE é um bom começo.