Doria trai tucanos históricos do RJ ao nomear um bolsonarista interventor no diretório do Estado. Por José Cássio

Atualizado em 11 de agosto de 2019 às 14:22
Doria e Marinho (Imagem: reprodução)

A polêmica não tem a temperatura da Vaza Jato, mas serve para dar a dimensão de como João Doria vem agindo no comando do ‘novo PSDB’ sob a presidência do seu pau mandato Bruno Araújo.

Entre os militantes de São Paulo não há um que não tenha a curiosidade de receber o que só os velhos cardeais tucanos já têm: um texto assinado pelo deputado estadual Luiz Paulo, do Rio, em que ele faz duras críticas ao gestor por conta do golpe que foi dado na seção carioca da sigla – Bruno Araújo interveio no diretório e nomeou como novo mandatário ninguém menos que Paulo Marinho, amigo milionário de Jair Bolsonaro.

O ápice da crise está para acontecer neste sábado, 10, quando Marinho será empossado novo presidente e vai anunciar Mariana Ribas, ex-secretária de Cultura de Marcelo Crivella, exonerada na semana passada, como a candidata do partido à prefeitura do Rio em 2020.

“Li nos jornais que, no próximo final de semana, na sede do Jardim Botânico, será anunciado o novo candidato a prefeito do partido. Os deputados me perguntam: quem será? E eu digo: não sei. Por quê? Porque o presidente do PSDB, interino, se originou de um golpe engendrado pelo governador de São Paulo, com o presidente nacional do PSDB, colocando o Sr. Paulo Marinho na presidência”, diz um trecho da nota.

Luiz Paulo foi vice-governador na gestão de Marcelo Alencar, entre 1995 e 1998, e está no seu quinto mandato na Alerj – o PSDB tem dois deputados estaduais no Rio.

Reclama que Doria está tratorando sem qualquer possibilidade de diálogo. Diz que foi à Justiça para anular o ato que considera “ditatorial”. “Estão nos expulsando do partido”, diz, ironizando Rogério Marinho. “Agora, as decisões do partido são tomadas na mansão do nomeado, sem passar pela convenção do partido”.

Em outro trecho do texto, lembra que Doria é traidor: “Foi eleito como aliado de Jair Messias Bolsonaro”.
Fala sobre o que chama de “novo” PSDB: “De novo só tem o rótulo – está mais próximo do PSL do que de qualquer outro partido”.

Luiz Paulo conta que está no partido desde 1993.

“Estou dando tom de pilhéria, mas, na verdade, o tom que quero dar, de fato, é de indignação”, diz.

“Jamais vi o PSDB tão achincalhado, tão vilipendiado, tão destruído. Virou um partido de ambições políticas pessoais. Não é mais partido. É um partido que se diz novo, mas só pensa na eleição presidencial do Sr. Dória, que nem completou o seu ciclo de Governo no Estado de São Paulo”.

Entre a velha-guarda paulista, o texto circula feito rastilho de pólvora.

Ninguém tem coragem de falar abertamente, mas os cardeais estimulam os militantes a difundir o conteúdo.
“É inimaginável isto que está acontecendo por meio de golpe”, diz Luiz Paulo. “E uma das características minhas é jamais me conformar com golpistas. Golpista merece sempre o nosso repúdio, porque aquele que se conforma com pequenos golpes mais tarde não conseguirá abrir a boca quando acontecerem os grandes golpes, até mesmo suprimir o tão suado, acalentado regime democrático que vivemos neste país e queremos manter”.

“PSDB quer dizer Partido da Social Democracia Brasileira, a não ser que vá querer – já que é um partido novo, liberal e neoliberal – mudar de nome e ser o partido dos golpistas”.

Como o partido no Estado está sob intervenção, ninguém sabe ao certo se o anúncio da candidatura vai ou não acontecer neste sábado – embora extraoficialmente esteja confirmada.

O que acontece no Rio é um indício da conjuntura tucana sob orientação de Doria.

No diretório paulistano, o gestor foi vaiado por entrar pela porta dos fundos sem cumprimentar militantes em uma reunião em julho.

Não há mobilização, não há estratégia, nem de longe lembra o PSDB de cinco ou seis anos atrás.

Quem dá as cartas na capital inclusive nem é tucano: é o vice Rodrigo Garcia, do DEM, que opera o varejo do toma lá, dá cá em nome do gestor.

A Doria cabe o papel de tratorar.

“Ele não dá ponto sem nó”, diz um militante histórico que por motivos óbvios pede para não ter seu nome revelado. “Em julho houve um ato de filiação de novos prefeitos: por baixo o PSDB tem hoje 200 prefeitos em São Paulo. Quer a ambulância? Quer o viaduto? Quer a fonte luminosa? Assina aqui a fichinha. É assim que ele trabalha”.

Se vai dar certo, ninguém sabe. O fato é que não só a velha-guarda, mas também os militantes históricos, escanteados, querem ver o gestor pelas costas.