E se João Doria fugir com a vacina? Por Moisés Mendes

Atualizado em 14 de fevereiro de 2021 às 10:47
João Doria Jr. e a vacina chinesa. Foto: Reprodução/Blog do Moisés Mendes

Publicado originalmente no blog do autor

Aécio Neves é um zumbi arrastando correntes e malas sem rodinhas nos grupos de WhatsApp do PSDB. Sua missão de enfrentar João Doria e abrir espaço e apoios à candidatura do gaúcho Eduardo Leite em 2022 cria soluções e problemas.

A solução é que finalmente os tucanos que ainda se acham donos dos grandes ninhos podem se livrar do poder paralelo de alguém que eles nunca consideraram um tucano genuíno.

O primeiro problema é o mais óbvio. Sem João Doria, o PSDB perde em São Paulo a “Vacina do Brasil”, um marketing poderoso que não estaria disponível para os tucanos em 2022.

Não se trata de um ativo retórico ou subjetivo, mas concreto, o mais real de todos os ativos políticos criados em meio à pandemia.

Será um prejuízo ampliado se Doria, ameaçado por prévias internas em que seria perdedor, decidir saltar fora do partido para concorrer por outra sigla. Doria não quer ser líder do PSDB, seu projeto obsessivo é ser presidente.

Se debandar, leva junto sua base e tudo o que envolve a Vacina do Brasil, associada à imagem de ousadia e desafio ao negacionismo bolsonarista e vista como um presente não só aos paulistas, mas a todos os brasileiros.

Sem Doria, o PSDB ficaria marcado como o partido ingrato com o governador que correu riscos, enfrentou Bolsonaro e trouxe uma vacina para o Brasil. Não uma vacina inglesa, americana ou francesa, mas chinesa. Doria fez Bolsonaro atacar a ciência e a China com grosserias.

O que Eduardo Leite (que também usa calça apertadinha) teria a oferecer nessa área? Só a cloroquina.

Leite foi um dos primeiros governadores a engolir as remessas de cloroquina feitas por Bolsonaro aos Estados e a autorizar a distribuição do remédio milagroso na rede pública de saúde do Rio Grande do Sul.

Não vai ser fácil segurar uma candidatura sulista, de um governador medíocre de um dos Estados mais reacionários e bolsonaristas, tendo São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, rachado pela briga com Doria.

Imagine-se que os tucanos terão de contar com um nome paulista para vice, para não deixar tudo entregue a Doria, mesmo que esse não venha a concorrer, mas se transforme num dissidente ressentido.

Com essa saída, com um nome paulista na chapa, o vácuo deixado por Doria seria resolvido. Mas como ficaria o Nordeste?

Chegaram a especular, como piada, que Luciano Huck poderia desistir de ser candidato a presidente e transformar-se no vice de Eduardo Leite, na condição de representante nordestino. Seria só ajustar o nome: Luciano Virgulino Huck.

Os tucanos vão pagar caro pela ressurreição de Aécio como tarefeiro que passará a cobrar a conta em parcelas. Aécio passa a ser o patrono moral da candidatura de Eduardo Leite.

Sem Aécio, não haveria o grito de guerra pelo nome do bacana gaúcho, como aconteceu no meio da semana em Porto Alegre em almoço dentro do Palácio Piratini com deputados tucanos engajados à candidatura redentora.

Eduardo Leite disse em entrevista à Folha no sábado, já como pré-candidato, que decidiu optar pela moderação em relação a Bolsonaro.

Passa a ser o único candidato da direita que não ataca Bolsonaro, de olho até no eleitorado-raiz do sujeito. Leite tenta parecer diferente, falando, como falou na entrevista, em “moderação, ponderação, sensatez e sobriedade”.

O discurso da fofura sulista, que camufla reacionarismos dissimulados e marca a trajetória política do candidato tucano, apresenta-se ao Brasil com a bênção de Aécio Neves.