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Jantar de Doria teve tentativa de expulsão de Aécio e acusações de traição

Aécio Neves e João Doria Jr. Foto: Agência Senado + Agência Brasil

De Igor Gielow na Folha de S.Paulo.

Cinco horas coalhadas de surpresas, discursos duros, acusações veladas de traição e regadas na última hora com vinho a pedido dos comensais.

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O jantar começou indigesto já no meio da tarde. Às 15h20, a Folha publicou que no cardápio haveria a sugestão de Doria de expulsar Aécio do PSDB, reforçar a oposição a Bolsonaro e integrar o grupo do DEM de Maia, que já fora convidado na véspera a integrar o tucanato.

Castro e Bruno Araújo, o presidente do PSDB, estavam em voo de Belo Horizonte e Brasília, respectivamente. Ao chegar a São Paulo, viram a notícia e conversaram, levantando dúvidas sobre a conveniência de participar do jantar.

O mal-estar se expandiu. FHC desistiu de ir ao jantar, e Aloysio cogitou fazer o mesmo. Serra já havia dito não, mas por motivos de saúde.

Ao fim, Castro e Araújo foram ao Bandeirantes. Chegando lá, pouco antes das 20h, encontraram o grupo de Doria: Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional, e também presidente do PSDB-SP), Wilson Pedroso (secretário particular), Antonio Imbassahy (“embaixador” paulista em Brasília) e Cauê Macris (presidente da Assembleia Legislativa paulista).

A eles se juntaram o deputado federal Samuel Moreira (SP), muito próximo do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito paulistano, Bruno Covas, e Aloysio.

O clima começou descontraído, com crítica entre os convidados à ausência de bebidas alcoólicas —Doria não as bebe. De tanta reclamação, o governador pediu para que fossem compradas algumas garrafas de vinho.

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Bruno Araújo, visivelmente contrariado, mas em tom calmo. Ele disse que havia sido “muito ruim” saber da ideia de remoção de Aécio pela Folha, e que não tinha apego ao cargo. Afirmou que, se Doria o quisesse, bastaria ter conversado antes com ele.

Em resumo, uma acusação de traição, que foi repetida do outro lado depois do evento, já que todos os aliados de Doria esperavam uma atitude mais complacente do ex-deputado e ex-ministro.

Um silêncio tomou conta da reunião, que foi encerrada pouco antes da 1h de terça após Doria fazer uma espécie de resumo do acontecido. A questão da presidência tucana não foi citada, mas o estrago se propagou de forma sísmica pelo partido a partir daquela madrugada.

A resultante é conhecida: Araújo foi reconduzido nesta sexta (12) à presidência tucana, Aécio Neves ressurgiu do ostracismo em troca dura de acusações com Doria, e o governador Eduardo Leite (RS) foi lançado para disputar a vaga de presidenciável por parte da sigla.

Para o entorno de Doria, o governador errou na forma, mas acertou no conteúdo: a debacle, sob essa ótica, serviu para delimitar quem está de que lado e irá orientar os próximos passos. A ordem agora no Bandeirantes é silenciar e deixar a fervura baixar.

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