“É urgente que a Rússia e a Ucrânia encontrem o caminho para a paz”, diz Lula na Itália

Atualizado em 21 de junho de 2023 às 8:33
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – Foto: Evaristo Sa/AFP.

Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia e disse que “há muito poucas pessoas falando sobre paz” e que “é urgente que a Rússia e a Ucrânia encontrem o caminho para a paz”. O petista também falou sobre as relações do Brasil com a China e sobre as perspectivas comerciais com a Itália, além de detonar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL):

Você acha que você e o Papa Francisco têm visões semelhantes?

Em 2020, quando o conheci, falávamos das desigualdades no mundo e de uma economia mais solidária. Logo depois veio a pandemia e a campanha eleitoral no Brasil. Agora encontro o Papa com um conflito na Europa que afeta a todos. Enviei um enviado especial, Celso Amorim, a Moscou e Kiev. Ambos os países acreditam que podem vencer militarmente: eu discordo. Eu acho que há muito poucas pessoas falando sobre paz. A minha angústia é que com tanta gente com fome no mundo, com tantas crianças sem comida, ao invés de tratar de como resolver desigualdades estamos tratando de guerra. É urgente que a Rússia e a Ucrânia encontrem um caminho comum para a paz.

Meloni o criticou por não ter extraditado Cesare Battisti e não enviou nenhum representante para sua posse em janeiro.

Espero que hoje nos conheçamos melhor e que os encontros que teremos fortaleçam o vínculo entre os nossos países, que sempre foi forte. Somos o país com mais italianos, perdendo apenas para a própria Itália. Temos 30 milhões de descendentes de italianos. Tenho excelentes relações com o vosso movimento sindical, com os intelectuais, com as empresas. Teremos conversas muito produtivas, porque nossas relações econômicas estão abaixo de seu potencial e devemos trabalhar muito para criar uma relação digna de nossas economias.

Você acha que Bolsonaro tem responsabilidades semelhantes às de Trump para os eventos em Brasília? Ele será julgado por abuso de poder.

Dizemos “quem semeia vento, colhe tempestade”. Meu antecessor não semeou vento: plantou ódio. Ele sempre falou contra a democracia, contra as instituições. Ninguém no Brasil jamais usou o Estado de forma tão vergonhosa para tentar se eleger, distribuindo empréstimos para quem não podia pagar, criando auxílios para taxistas que chegavam até a quem não tinha carteira de motorista. E depois das eleições, seu povo convocou um golpe militar. Absurdo. Agora ele tem que responder na Justiça. Espero que ele tenha presunção de inocência, direito à defesa e a um julgamento justo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Você tem um bom relacionamento com Xi Jinping e com a China, que é seu principal parceiro comercial, mesmo que continue sendo um país antidemocrático.

O Brasil não tem problemas com nenhum país do mundo e temos um excelente relacionamento com a China, que tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza nas últimas décadas e contribuiu muito para a economia mundial. Meu diálogo com a China sempre foi positivo e na direção de maior paz, harmonia, crescimento do comércio e cooperação no mundo. A China é tão importante que até a Itália já aderiu à Nova Rota da Seda, à qual o Brasil ainda não aderiu. (…)

A Itália é o segundo parceiro comercial do Brasil na Europa, depois da Alemanha. Existem projetos em desenvolvimento?

Brasil e Itália têm uma longa história de colaboração em comércio e investimento. Temos cerca de 1.400 empresas italianas no Brasil e mais de 20 grandes empresas brasileiras na Itália. Hoje também estamos nos concentrando em energia renovável. 87% da nossa eletricidade vem de fontes renováveis, bem acima da média mundial de 28%. Ou seja, a atividade industrial no Brasil emite poucas emissões de carbono, queremos expandir a produção de energia solar e eólica, o potencial do Nordeste brasileiro é enorme. Podemos ser um grande produtor de hidrogênio verde, com capacidade de apoiar o mundo na transição energética.

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