Editora do Estadão é denunciada ao MPT-DF por armação no caso da “dama do tráfico”

Atualizado em 27 de fevereiro de 2024 às 15:32
Andreza Matais na TV Estadão. Foto: Reprodução

Editora-chefe de Política do jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), Andreza Matais, foi denunciada ao Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal (MPT-DF).

O texto diz que a jornalista “assediou e obrigou repórteres recém-contratados” a publicar uma matéria que relacionasse o ministro da Justiça, Flávio Dino, a uma mulher identificada “dama do tráfico do Amazonas”. Na semana passada, o jornal publicou que Luciane Barbosa, mulher de um líder do Comando Vermelho, encontrou o ministro durante sessões na pasta de Direitos Humanos.

“Somos colaboradores do jornal Estadão e queremos denunciar aqui que a editora-chefe de política do Estadão (jornal Estado de S. Paulo), Andreza Matais, assediou e obrigou repórteres recém-contratados por ela (todos no ano de 2023) a preparar e publicar uma reportagem enviesada que foi previamente concebida por ela para denunciar supostas ligações do ministro da Justiça, Flávio Dino, com uma mulher apresentada jocosamente como ‘dama do tráfico do Amazonas'”, começa o documento.

O mesmo texto ainda afirma que Andreza arquitetou a matéria com intenção de desmoralizar Dino em prol do ministro Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU). Ambos disputam a vaga da ex-ministra Rosa Weber no STF. “Para viabilizar esse seu interesse pessoal oculto de ajudar Dantas e desmoralizar Dino, Andreza também usou uma entrevista do ministro Gilmar Mendes, do STF, igualmente amigo pessoal de Bruno Dantas e de Andreza Matais para inflar a gravidade da visita da ‘dama do tráfico’ e, assim, conferir ares de gravidade ao ‘factoide’ que é o encontro de uma suposta chefe do tráfico com autoridades do governo”.

O documento procede: “A tática imita operações de desinformação de arapongas e outros profissionais de ‘inteligência’, pois, na ausência de fatos que indiquem um favorecimento ou uma comunhão de desígnios com a tal chefe do tráfico, a fabricação de notícia busca conferir verossimilhança a uma narrativa pela qual Dino pareça alguém ligado ou simpático ao narcotráfico e, assim, seja considerado um nome impróprio para o STF”.

Por fim, a denúncia ao Ministério do Trabalho diz que Andreza chefia cerca de 30 jornalistas que foram obrigados a escreverem tal texto. “Recém-contratados, oriundos de cidades fora de Brasília, os jornalistas não tiveram alternativas que não fossem cumprir as ordens arbitrárias e enviesadas da chefe. Em paralelo, foram submetidos a jornadas degradantes sem contabilização ou pagamento de horas extras, como denunciado anteriormente, e com o emprego de recursos e objetivos escusos na prática diária do jornalismo, protegido constitucionalmente”.

Andreza Matais, por sua vez, nega as acusações: “A denúncia é improcedente e a direção de jornalismo já encaminhou o caso para o jurídico, que tomará as providências cabíveis”, declarou a editora-chefe de política do Estadão.

Confira parte dos prints da denúncia, que foram divulgados pela revista Fórum:

Parte de denúncia ao MP-DF. Foto: Reprodução
Parte de denúncia ao MP-DF. Foto: Reprodução
Parte de denúncia ao MP-DF. Foto: Reprodução

RESPOSTA DE ANDREZA MATAIS

Sobre a publicação “Editora do Estadão é denunciada ao MPT-DF por armação no caso da “dama do tráfico”, de 19 de novembro de 2023, repudio as mentirosas e infundadas acusações divulgadas por este veículo a meu respeito, como se verdade fossem, sem ouvir os repórteres que assinaram a matéria e sem informar ao leitor que se tratava de uma denúncia anônima.

Jamais submeti os jornalistas da minha equipe a assédio moral ou coação, muito menos proferi “ordens arbitrárias” visando à elaboração de “reportagem enviesada” ou “previamente concebida” contra qualquer pessoa. Tampouco os expus a “jornadas degradantes sem contabilização ou pagamento de horas extras”, conforme irresponsavelmente reproduzido na matéria.

Os próprios jornalistas de política do Estadão, também indignados com as acusações, divulgaram em 22 de novembro de 2023 uma carta aberta na qual reprovaram a divulgação de “versões falsas sobre nossas condições de trabalho” e esclareceram serem “mentirosas as informações… de que nossas reportagens são escritas e publicadas sob coação e assédio de editores”.

Aliás, as reportagens sobre a “Dama do Tráfico” sequer foram preparadas por repórteres “recém-contratados”. Elas são assinadas por dois experientes jornalistas da editoria de política do Estadão.   

A fragilidade da denúncia, formulada por um acusador anônimo e desacompanhada de provas, fez com que o Procurador do Trabalho determinasse, em 21 de novembro de 2023, antes da instauração de inquérito, a realização de diligências para corroborar as afirmações reproduzidas por este veículo.

Sobretudo porque, naquela mesma decisão, entreviu-se a possibilidade de que o Ministério Público do Trabalho esteja sendo “utilizado como mecanismo para criação de factoides político-partidários”. 

A verdade é que a cobertura jornalística do caso “Dama do Tráfico” nada teve de “armação”. Pelo contrário, as visitas de Luciane Barbosa Faria ao Ministério da Justiça, então comandado por Flávio Dino, foram confirmadas pela própria pasta, que, inclusive, mudou as regras de acesso ao prédio em regime de urgência. E um secretário do Ministério assumiu publicamente o erro.

Não agi por “interesse pessoal” ou com o intuito de beneficiar a candidatura de quem quer que seja a uma vaga de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Muito menos a do presidente do Tribunal de Contas da União, de quem não sou “amiga pessoal”. 

Como sempre faço, e como é tradição do Estadão, eu e a equipe de Política do jornal levamos à sociedade informações verdadeiras a respeito de um assunto de evidente interesse público, respeitando a ética jornalística e os direitos trabalhistas.

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