Em mais um diálogo obtido pelo DCM, captado no âmbito da Operação Spoofing, entre Deltan Dallagnol e Sergio Moro, ambos conversam sobre a preocupação do ex-procurador externada ao ex-juiz acerca de uma postagem que viu no Facebook do antigo titular da 13ª Vara Federal de Curitiba ao lado de Carlos Zucolotto Junior.
Nela, chamam a atenção a proximidade do atualmente senador pelo Podemos paranaense com Zucolotto (“um bom amigo”), a intimidade entre o acusador e o juiz que deveria decidir o caso, que anos mais tarde viria a ser um dos fatores que desencadeariam na anulação dos julgamentos da Lava Jato e a “brincadeira” de cunho homofóbico feita pelo deputado cassado a partir de uma foto em que o magistrado estava com Zucolotto em uma pescaria usando uma sunga:
“O que mais me preocupa é que isso tem um potencial de um escândalo por causa dessa sunguinha “V” que está usando”, disse Dallagnol. “O maior risco é a G Magazine descobrir”.
A foto foi excluída da rede social.
Na mesma conversa, ambos demonstram sua preocupação com as acusações de Rodrigo Tacla Duran, afirmando tratarem-se de mentiras.
Não seria a primeira vez que uma peça íntima ganharia destaque na Lava Jato. Recentemente, Tony Garcia disse ter vídeos de uma suposta “Festa da Cueca” que contou com desembargadores do TRF-4 e cujas imagens teriam sido utilizadas pela “República de Curitiba” para chantageá-los afim de ter suas decisões confirmadas na segunda instância da Justiça Federal.
Carlos Zucolotto, ex-sócio da hoje deputada Rosangela Moro, mulher de Sergio, teria sido o intermediário a quem Tacla Duran pagou US$ 613 mil em troca de “facilidades” na Lava Jato.
As implicações
Leitura atenta do diálogo mostra que ambos estavam combinando uma resposta à imprensa sobre a minuta do acordo que Tacla Duran faria com o Ministério Público Federal de Curitiba e que ela estava em conformidade com as condições negociadas por Zucolotto.7
Todas as condições do acordo que Zucolotto expôs a Tacla Duran, inclusive a redução da multa, se repetiram na minuta enviada pelos procuradores Júlio Noronha e Roberto Pozzobon. E mais: na conversa, mencionam o fato de que Tacla Duran guardou cópia dos dois arquivos.
As propostas de redução dos valores e das condições de pena de Tacla Duran prometidas pelo ex-sócio de Rosangela Moro constaram na minuta do acordo feito pelo MPF, sendo assim um indício de que o advogado entregava as facilidades que vendia.
A troca de mensagens
23 Aug 17
14:33:25 Deltan Caro, ninguém aqui conhece esse advogado. Pesquisamos na internet e apareceu o nome da Rosangela. Vamos fazer uma resposta para a Monica Bergamo, mas queremos saber que relações podem existir para não errar nas informações.
14:33:25 Deltan
1. Rodrigo Duran Tacla diz que, entre março e abril de 2016, ele tratou dos problemas que tinha na Operação Lava Jato com o advogado Carlos Zucolotto Junior, que era seu correspondente em Curitiba.
2. Duran Tacla diz que, quando procurou Zucolotto, outros advogados que o representavam oficialmente já tratavam com os procuradores. E que o procurador Roberson Pozzobon tinha proposto como acordo, por meio desses profissionais, que ele pagasse uma multa de US$ 15 milhões, além de cumprir pena de prisão.
3. Zucolotto, segundo relato de Duran Tacla, disse que poderia fazer uma negociação “paralela” com a Lava Jato para melhorar a proposta do Ministério Público Federal. E que, para isso, teria que receber por fora para “cuidar das pessoas que ajudariam” na missão.
4. Sempre de acordo com o depoimento de Duran Tacla, Zucolotto disse ainda que seu “contato” no MPF poderia conseguir que “DD [Deltal Dallagnol] entre na negociação”.
5. Ainda conforme o depoimento, depois da oferta de Zucolotto, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon enviaram a Duran Tacla, por correio eletrônico, um modelo de acordo com as condições alteradas, iguais àquelas indicadas por Zucolotto em mensagens enviadas a Duran Tacla. Ele diz ter cópia das mensagens de Zucolotto e dessa proposta.
6. Essas condições eram: prisão domiciliar e multa menor. Este é o relato.
Eu gostaria de perguntar se:
1. O advogado Zucolotto em algum momento entrou em contato com procuradores da força-tarefa ou com algum interlocutor destes para interferir pelo investigado Rodrigo Duran Tacla.
2. O advogado Zucolotto ainda é advogado do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, como consta em ação trabalhista movida por este para receber diferenças de diárias correspondentes ao ano de 2005. E se Zucolotto o procurou ou o abordou em algum momento para falar sobre o caso de Duran Tacla.
14:33:29 Deltan URGENTE
14:37:14 Deltan Acabei de ver agora no facebook que Vcs são amigos no face
14:39:20 Deltan
15:19:21 Deltan O que mais me preocupa é que isso tem um potencial de um escândalo por causa dessa sunguinha “V” que está usando.
15:19:38 Deltan (tentando manter o bom humor)
15:35:30 Deltan achei o “rascunho cibernético” do livro do Tacla onde ele cita o Zucolotto: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:iscl2TFHvW0J:testimonioduran.es/wp-content/uploads/2016/05/rodrigo-duran-tacla-testimonios.pdf+&cd=14&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br
18:05:28 OK. Já falei com Lima e Januário e respondi Bergamo.
18:05:57 O Zucoloto é um bom amigo e Tacla mente.
18:38:29 Da sunga, era outra época. Conseguiu isso no Facebook de quem? Meu?
21:01:14 Deltan ???
21:02:33 Deltan Tacla mente e muito. Meu receio é o potencial danoso da mentira. Se for contra Vc, é mais fraca (e por isso é esse advogado), mas se for contra mim, não tenho a mesma credibilidade pública que Vc tem, então tenho preocupações com o desgaste. Com outros ataques acostumei, mas esse é muito baixo
21:03:00 Deltan do facebook dele, e isso que não sou nem amigo dele no face rs… tá lá aberto… o maior risco é a G Magazine descobrir rs
21:19:15 Esse negócio do Zucoloto é uma completa mentira. Ele é um amigo próximo e só atua na área trabalhista. Se ele tiver documentos, é porque forjou mas duvido que tenha.
21:20:02 Da foto realmente, tem que tirar do Facebook… O peixe é bonito pelo menos
21:21:04 Deltan rs… acho conveniente, até pela sunguinha “v”
21:22:29 Deltan Eu acho que foi proposital. Queria ‘construir’ a história de modo a o reporter poder contribuir. Então me vinculou ao cara, como se ele me vendesse, apesar de eu não conhecer, e apontou um “amigo” comum, quando ele é amigo seu. Ele quer é nos afastar do caso dele. Até fez o paralelo com o caso do Gilmar.